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15 de janeiro de 2018

O dia em que eu vi Jesus

     Uma vez, uma amiga escreveu que encontrou os olhos de Jesus no espelho. Eu sempre fui uma pessoa sensível e poética, mas eu achava aquilo misterioso demais. Eu era acostumada a encontrar Jesus na Palavra, nas canções, nas obras de arte, no pôr-do-Sol. Mas no espelho? Em mim mesma? Impossível. Eu pensava na época que ela era algum tipo de pessoa especial em quem Jesus habitava plenamente a ponto de vazar pelo olhos, mas isso porque eu ainda não entendia muito bem quem eu era. Eu descobri com o tempo que eu me tratava como uma máquina, e me descrevia como uma máquina, e tentava ser como uma máquina. E máquinas não têm alma, muito menos Espírito. 
     
     Sentar-se na frente do espelho é um exercício lamentável, se você é mulher. Você quer enxergar algo de bom em si, procura seus ângulos mais bonitos, joga um sorriso pro alto, infla o peito, murcha a barriga, empina a bunda, e depois se desmancha, desanimada. Conta todas as pintinhas e manchinhas do rosto, imagina um novo corte de cabelo, ou quais roupas te fariam parecer mais bonita que você é. Às vezes você chora, o que só piora o quadro - além de enxergar tudo que te desanima sobre seu rosto e corpo, você se lembra de tudo que te desanima sobre seu coração. 
     
     Eu sempre lamentei todas as partes que faltavam em mim, porque elas estragavam meu amor por mim, e, enfim, quem amaria alguém com tantas partes faltando? Eu queria ser inteira, ter um coração curado de todas as vezes em que foi quebrado, uma consciência limpa de todas as vezes em que quebrou os outros, um humor leve, um raciocínio menos entulhado de tanta ladainha, uma imaginação despoluída das coisas decadentes que eu colecionei pela vida. Inteira, completa. Perfeita.

     Um dia, lendo Isaías 53, eu dei de cara com uma lembrança da humanidade de Jesus. "Desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento (...) Certamente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças". Jesus não só era humano, era homem, mas tomou sobre Ele as mazelas, as nossas mazelas. Pediu pra que nós lançássemos sobre Ele nossas ansiedades. Disse que nos aliviaria. Olhei no espelho de novo.
     
     Eu via a mesma pessoa. Os mesmos buracos. As mesmas olheiras escuras, as bochechas cheias, a postura encurvada, a mandíbula torta. As mesmas partes faltando. Eu não podia fazer muito sobre elas, mas, em cada pedaço que eu não tinha, eu sabia que Ele estava lá, preenchendo os vazios. Ele É tão grande que cabia até no buraco negro que eu guardava no peito. Como uma tampa, que segura o fluxo de um ralo muito violento, que estava me engolindo. E, no vazio dos meus olhos, Ele era o brilho discreto, no canto, que, ao fim dos dias mais difíceis, me lembrava que ainda havia esperança.
     
     Eu achava que minhas imperfeições eram uma maldição, porque elas nunca seriam totalmente resolvidas. Eu poderia me esforçar pra sempre, mas nunca conseguiria vencer a humanidade, minha carne, meus ossos, meu sangue, e essa pele cheia de cicatrizes. Mas existe algo nas minhas manchas que me lembra que eu preciso, eu careço de algo maior, que carregue o fardo que eu não aguento, que alimente a esperança dos dias vindouros, que me salve de mim mesma quando eu não me suporto. Alguém infalível, que eu possa admirar sem restrições, alguém digno da minha adoração, do meu louvor. Alguém que já estava dentro de mim, mas eu mesma não entendia. Que bom te ter aqui, Jesus. Fica pra sempre. A casa é Sua.
     

14 de setembro de 2017

Eu sou difícil de amar.

     Ou, pelo menos, foi nisso que me fizeram acreditar a vida toda. Eu não era suficiente pra que ninguém se esforçasse. Chata demais, espinhosa demais, especial de menos, bonita de menos. Desde criança, consciente ou inconscientemente, a mensagem que as pessoas que passaram pela minha vida foi uma só - você é difícil de amar.
    
     Ninguém queria se esforçar pra entender meu jeito de falar, ou de pensar, de me vestir, de me comportar, apesar de eu ansiar tanto por um pouco de compreensão, alguém que sinalizasse que eu não estava sozinha dentro da minha cabeça no mundo. Nem meus pais escaparam dessa. Não os culpo, porque eu sei que, de alguma forma, eles achavam que me fariam bem, apontando as dificuldades de relacionamento que havia entre eu e o mundo. Mas algo se perdeu nessas boas intenções também.
    
     Não é surpreendente que, no meio de toda essa bagunça, mesmo tendo crescido na igreja, eu tenha passado meus 22 anos de vida sofrendo com um sentimento de que nem Deus seria capaz de me amar. Mesmo conhecendo e experimentando de todo o maravilhoso cuidado do Pai comigo ao longo de toda a vida, e a insondável profundidade do seu Ser, essa barreira não se fechava. Não se fechou, aliás. Não completamente. Eu vivo em altos e baixos dessa jornada de contemplar minha própria imperfeição nas superfícies reflexivas da vida, e não saber olhar pros céus depois disso. Algo sempre morre um pouquinho.
    
     Eu já falei milhares de vezes aqui sobre o perigo de colocar sua esperança no amor dos outros, mas acho que esse é um erro que todos vamos acabar cometendo, em algum momento, antes de acertarmos o alvo das nossas expectativas. Até porque o ser humano foi essencialmente criado para relacionamento, para amar e ser amado, e, em primeiro momento, é muito mais fácil se apoiar naquilo que está bem diante dos olhos. Aliás, eu diria que a vida é toda sobre o que amamos ou deixamos de amar entre o espaço e o tempo. Um movimento constante de aprender e desaprender, mas tudo sempre gira em torno disso. Não à toa, do nosso coração procedem as fontes da vida.
    
     Eu posso descrever com exatidão a forma como meu coração se aperta toda vez que eu experimento algum tipo de rejeição, mas existe também uma forma muito específica como meus ombros se relaxam quando eu me enxergo nos olhos de Jesus, o verdadeiro espelho pra mim. Saber que você é feitura divina é uma verdade que demora a descer da cabeça pro coração. Saber que você não nasceu pra agradar a todos, que sua individualidade é linda, são tantos clichês que, de tão repetidos, parecem nem fazer sentido mais. Parecem até mentira.
    
     Muitas pessoas foram responsáveis por me privar de viver a verdade do Amor genuíno que o Pai derramou sobre mim. E, pro meu total desespero, eu já fui responsável por privar outros de acreditar que eles eram dignos de amor e atenção. Essa contradição ambulante entre o que eu vivi e o que eu queria viver e o que eu já fiz e o que eu queria fazer gerou um sentimento profundo de empatia dentro de mim. Como olhar pra outra pessoa e não enxergar nela os mesmos cacos que me tornaram o vaso quebrado que eu sou? Enquanto Ele não volta, continuamos sendo refeitos, sujeitos a quebrar de novo, e de novo, e eu preciso amar todos os vasos em pedaços que existem por aí, tanto quanto eu gostaria que amassem os meus caquinhos.
    
     Sempre parece uma idiotice colocar dessa forma, em palavras tão simples, porque amor, misericórdia e compaixão na prática são a maior batalha que nós enfrentamos. Principalmente quando a pessoa a ser amada é exatamente aquela que nos magoou. Acho que é esse o ponto em que tudo converge e se encontra. O mais profundo do nosso Amor é testado no perdão, e na capacidade de se enxergar no lugar de quem não foi capaz de fazer isso por você.
    
     Por coincidência (ou não), amar àqueles que nos fazem mal, àqueles que nos matam, que nos pregariam numa Cruz se pudessem, foi exatamente aquilo que o Ponto de Convergência de toda a dispensação dos tempos fez. AquEle que se entregou por Amor, obediente até a morte. Aliás, aprender a Amar é poder contemplar o pior e ainda assim enxergar o melhor. Quem de nós é capaz de fazer isso? Assim como em Cristo, um pouco de nós sempre morre nesse processo. Eu prefiro pensar que aquilo que me torna difícil de ser amada aos olhos dos homens some um pouquinho quando o caráter dEle aparece em mim.
    
     Todo esse fluxo de ideias confusas é só um reflexo de sentimentos confusos, que, somados e subtraídos, são só as consequências de um coração machucado tendo que se recuperar de novo. Eu nunca fui dessas que foge dos processos, mas amar, às vezes me dá vontade de voltar atrás. Poder viver minhas mágoas e cultivar rancor e amargura em paz, até que me consumam totalmente. Mas, acho que, no final, de tantas mortes diferentes, tudo que eu quero é encontrar Vida. A minha, a dEle, pra que nós possamos ser um, e eu consiga finalmente aceitar que, sim, meu Pai me ama, apesar de tudo aquilo que eu odeio sobre mim, e que os outros odeiam também. A realidade é dura, mas a verdade é bela. Existe esperança no meio do caos. Existe Amor. Tanto pra mim, quanto pra você.
    

24 de julho de 2017

O Jesus que você inventou

    Vamos começar essa reflexão entendendo que existe uma distância entre quem as pessoas realmente são, e a ideia que nós temos delas. Nós somos virtualmente incapazes de conhecer e compreender plenamente a complexidade de sentimentos e pensamentos que os outros são, porque sempre olhamos pra eles a partir da nossa própria complexidade de sentimentos e experiências. O Único capaz de te conhecer plenamente é aquEle que criou e não apenas viu, como viveu com você, todas as experiências da sua vida.
   
    A afirmação é válida inclusive pro maior de todos os homens, Jesus, o Cristo, aquEle que dividiu a história entre antes e depois de Seu nascimento. Nossos olhos não viram seu rosto, nem nossos ouvidos ouviram Suas palavras, ou nossas mãos apalparam Suas mãos, mas Ele continua aí, sendo maioria absoluta na face da Terra.
   
    Aliás, em um mundo religiosamente complicado, muita gente foge dos rótulos dizendo que só tenta viver sendo como Jesus. E, não me levem a mal, eu mesma solto essa de vez em quando. Mas a geração do "O que Jesus faria?" se acidentou em algum momento, porque se esqueceu que Jesus é vivo, e Ele não faria - Ele faz, e está fazendo. E Ele sempre disse que apenas fazia o que via o Pai fazendo, então fica bem estabelecido um padrão - fazer o que o Pai está fazendo. Então, a lógica me manda imitar não apenas a superfície das atitudes de Jesus, mas a origem de todas elas, porque elas seguiam um princípio do qual eu não posso fugir, se realmente decidi devotar minha vida a ser como Ele.
   
    [Se você não acredita em nada do que eu falei até o momento, imagino que possa pelo menos concordar que Jesus foi um cara muito importante e digno de imitação. Aguenta firme aí.]
   
    E aquilo que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nos é revelado pelo Único que está conosco até hoje, e que conhece as mais profundas profundezas de Deus. O Espírito Santo vive em nós, e não há desculpa que nos isente da responsabilidade de cumprir a vontade de Deus, a única que Jesus aceitou sobre Sua vida. Assim como Ele não veio pra fazer o bem, mas para cumprir Seu papel no bom propósito do Pai, estabelecido nEle mesmo, eu e você também não viemos para andar pela terra como seres de luz cheios de frases de efeito. Viemos cumprir uma missão, estabelecida antes da fundação do mundo.
   
    O problema é que a figura de um homem bom, cuja vida terminou em sacrifício, é muito conveniente pra sociedade dos cidadãos de bem. É lindo que eu fale que quero ser uma pessoa iluminada e cheia de amor. Mas, se sou eu quem decido o que é luz e o que é amor, isso é apenas um alívio de consciência e um disfarce pro meu egoísmo. A Vida não é, nunca foi, e nunca será, o que nós queremos que ela seja. Ela é muito grande, muito maior que nós, pra que possamos segurá-la com nossas próprias mãos humanas, e achar que nossa individualidade tem o direito e o poder de fazer com que o Universo gire em torno da nossa lista pessoal de achismos.
   
    O homem bom favorito da sociedade ocidental não era nada como essa sociedade tentou pintá-Lo. Mudaram não só Sua aparência, mas suavizaram Suas palavras e o transformaram num retrato genérico de tudo aquilo que nós queremos que seja bom, puro e agradável. Um ser "de luz", que "fazia o bem" e deixou o Amor como mandamento. Aliás, "Jesus é Amor!", eles gritam - mas amor não é Jesus.
   
    Jesus não foi uma pessoa boa. Jesus trouxe uma espada, porque Ele é a Verdade, e a Verdade não é negociável - ela é ou não é. Jesus trouxe justiça, Jesus proferiu exortações, deixou instruções precisas sobre como se deve viver a vida, e não pílulas genéricas para ser feliz. Até porque pessoa boas não transformam a sociedade! Atitudes generosas esvaziadas de propósito não transformam a sociedade. A humanidade tá aí há séculos tentando provar que consegue usar a gentileza pra mudar a natureza decaída do homem. É necessário algo maior. Um mundo inteiro afundado em corrupções precisa de uma grande estratégia, precisa de visão além do alcance, precisa de um exército bem treinado e um General apto a discernir as intenções e as atitudes dos corações, para que a essência do convencimento do mal possa alcançar tantos quanto seja possível. Te parece exagerado? Pois era assim que Jesus vivia.
   
    E não me entendam mal, Ele era bom, muito bom. O Único genuinamente Bom. As Suas palavras duras eram boas, Seus milagres eram bons, Seus mandamentos eram bons. Ele se preocupava com os pobres, com os fracos, oprimidos, doentes. Ele entregou tudo de Si. Mas em obediência ao Pai, dentro de um projeto, de um propósito, tudo por Amor. O verdadeiro Amor, muito além do que nossa mente humana consegue aceitar; que não é egoísta, que não busca os próprios interesses, nem a própria vontade. Amor à Vida e ao que é Eterno, em seu sentido mais puro e pleno - conhecer e prosseguir em conhecer o Único que vive eternamente. Ele abriu um Caminho para ser trilhado; não inaugurou um estilo de vida, mas um Reino.
   
    Jesus não é um medicamento genérico que cura todas as suas dores, Ele é uma injeção precisa que te mata, depois te ressuscita. Ele não é uma lâmpada que você encaixa em qualquer lanterninha, Ele é a própria Luz. Se só te interessa iluminar alguns, a história está cheia de homens e mulheres de bem. Se te interessa buscar e encontrar a Salvação, a boa notícia é que Ele é o Salvador do Mundo. Mas Ele também é Senhor. Não tente fazer dEle seu servo, não tente inventar a sua versão daquEle que criou todas as coisas. Ele é o Rei desse Reino, o ponto de convergência de todo esse bom propósito, o dono do Poder. Ele é. Eu e você, não.
    
    

28 de março de 2017

"30 de 22", ou "Por que não estou mais decepcionada comigo mesma"

     Há exatamente 4 anos, eu publiquei neste blog um grande desabafo sobre a minha vida, intitulado 30 de 18, ou "Por que estou decepcionada comigo mesma". Um mês depois de completar 18 anos, eu coloquei um espelho diante de mim e não enxerguei nada além de coisas que me frustravam, decepcionavam, chateavam. Naquele dia, eu odiei ser eu, não pelo que eu era, mas pelo que eu estava me tornando. No dia seguinte, um vídeo também (hoje em dia eu tô curada, pode assistir também).
    
     Depois daquele 28 de Março de 2013, eu ainda me frustrei muito. Poucas semanas depois, tive uma grande frustração amorosa. Ainda tive outras, meses, anos depois. Tive muitos altos e baixos nas expectativas profissionais. Fiquei obcecada por dezenas de coisas diferentes, de ideologias políticas a séries de TV. Coloquei minha identidade em todas elas, e descobri que não me encaixava em nenhuma. Engordei, emagreci, engordei mais, emagreci de novo, e agora não sei bem. Pintei mil quadros e escrevi dois mil textos, tentando me expressar. Mudei de país, vivi vários sonhos, e voltei pra casa com o gosto amargo de quem descobre que lutou por algo que nem era tão importante assim. Eu vi meu castelinho de areia da vida desabar. E uma das minhas avós faleceu também.
     
     Passado esse tempo, ainda curto, mas significativo, eu coloco diante de mim, aos 22, o mesmo espelho dos 18. É curioso observar que várias das feridas, mesmo cicatrizadas, ainda doem, como se pudessem se abrir a qualquer momento. Acontece que, essencialmente, este espelho reflete as mesmas coisas que refletia há quatro anos. Minha vida ainda parece um retumbante fracasso, diante das expectativas que eu cultivava sobre mim mesma. A grande diferença hoje é que eu resolvi trocar de espelho.
     
     Aqueles fracassos não me assustam mais, porque aquelas expectativas não importam. A Luisa de 18 queria ser dona do próprio destino, e se esqueceu que, logo quando nasceu, sua vida foi consagrada ao próprio Autor da Vida. Eu achava que as coisas mais importantes que eu faria na vida viriam antes dos 18, sendo que existe muito mais pra ser vivido. Eu me esforçava pra ser reconhecida pelos homens pelo que eu fazia, como uma extensão do que eu era, mas não percebia que isso me fazia morrer.
     
     Eu sou feliz hoje. Não como quem acha que já fez o bastante, mas como quem sabe que tá a caminho, no Caminho certo. Eu olho ao meu redor e vejo que, em todo esse fracasso aparente, tem sido gerada uma vida que tem significado. O maior projeto da minha vida não é cumprir meus planos, mas completar a carreira exata para a qual eu fui criada. Se os propósitos se cumprem hoje ou daqui a 25 anos, não importa. E não é que eu não tenha dias frustrados, tristes, ou desanimadores - a vida continua sendo vida. Mas, quando parece que eu vou cair, eu descubro que existe uma segurança maior, como uma rede de proteção me protegendo do abismo.
     
     A maior frustração que eu experimentei na minha vida foi descobrir que toda a minha racionalidade não era suficiente pra conter a tempestade de sentimentos dentro de mim. Mas a resposta disso foi a Voz que acalmou os mares sussurrando paz à minha alma. A Paz que transcende todo entendimento é sentar-se no barco dentro do mar agitado e ter a certeza de que, qualquer que seja o fim da história, eu confio o bastante nas mãos que estão escrevendo, mãos furadas na Cruz, que também seguram o universo e também meu coração. Agora, me parece que tem um tornado vindo, mas tá tudo bem. Se eu e o barco afundarmos, no final, eu também sei pra onde vou. Dá pra ficar decepcionada, assim?
   
   
    

27 de março de 2017

Ponto de Fuga

     Estava vendo fotos das minhas viagens (faço isso frequentemente), e encontrei uma vista do alto do salão do Museu d'Orsay, em Paris. Pra além de ser um projeto incrível e um museu fantástico, a foto é naturalmente bonita por causa do ângulo em que foi tirada. Estou longe de ser uma fotógrafa muito talentosa, mas o local de onde eu observava o salão do museu permitiu que o ponto de fuga da cena ficasse claramente destacado.
    
     Eu cresci entre papéis e lápis de desenho, sendo ensinada pelo meu pai e minha mãe nos caminhos da arte. Acabei na faculdade de Arquitetura e, em um dado momento disso, virei brevemente professora de desenho pra alunos que queriam entrar no curso. Quão grande foi minha surpresa quando eu descobri que muita gente não consegue enxergar os pontos de fuga quando olha pro mundo!
    
     Os anos de treino fazem com quem eu naturalmente identifique os eixos principais de construção de qualquer objeto ou cena que observo, e isso é natural pra desenhistas, artistas, arquitetos. Uma pessoa que não foi ensinada a entender o básico de como funciona a geometria dos pontos de fuga consegue vê-los, mas não os entende, não os identifica. Elas são capazes até de desenhar um objeto em "perspectiva" com linhas paralelas, apesar de sua visão mostrar o contrário, porque elas não foram ensinadas a enxergar isso. 
    
     Acontece que pontos de fuga e perspectiva não são facilmente entendidos porque não são materializados. São uma estratégia da nossa visão para que o mundo ordenado faça sentido em sua profundidade completa. Sem as deformações da perspectiva, não conheceríamos este mundo em toda sua altura, largura e profundidade. 
    
     O ponto chave da questão é justamente como a falta de conhecimento de algo que todas as pessoas enxergam faz com que elas não entendam o que estão vendo. Me parece um pouco com o Evangelho. As boas novas da Salvação e do Reino de Deus não se encaixam na lógica comum deste mundo, mas, sem elas, este mesmo mundo não faz sentido. A altura, largura e profundidade da nossa existência são plenamente apreciadas sob a perspectiva de que temos um propósito que vai além dessa vida; que temos um Pai Eterno que nos ama, e fomos chamados a fazer parte de um Reino que nunca terá fim. E, por mais que isso pareça uma distorção da realidade, no fim, é a forma correta de enxergar a vida em sua plenitude.
     
     Uma vez, Jesus me disse que todas as coisas que criou nesta terra imperfeita eram uma metáfora da realidade espiritual. Isso faz todo sentido quando penso que a Bíblia fala em Provérbios 8:30 que Ele foi o Arquiteto do Universo. Assim como C.S. Lewis falava que cria no Evangelho como cria no Sol - não por vê-lo, mas por ver tudo através dele - , eu digo que hoje o Evangelho é meu ponto de fuga. A perspectiva ideal através da qual eu enxergo e compreendo o Universo que Ele criou. E assim como, um dia, ensinei alunos a enxergar os eixos que constroem nossa visão do mundo, quero ensinar outros a descobrir quais são os eixos que ordenam as perspectivas da vida.
     
      
A tal da foto.
      
     

14 de fevereiro de 2017

Sobre a Morte.

     O maior problema que nós enfrentamos na vida é que a vivemos como se ela nunca fosse acabar. Parece engraçado, mas sempre falamos disso pensando nos outros. Eis o fato: você e eu vamos morrer também. Um dia, que parece distante agora, quando eu penso em tudo que ainda preciso fazer, mas parece que chegará em breve, diante da velocidade com que as coisas correm. O Tempo, ele corre.

     O que você faria se tivesse apenas mais um mês, seis, um ano, dez, quinze de vida? A maioria diria que iria então viver, viver tudo que não foi vivido antes. A ideia de saber do fim motivaria uma troca de perspectiva. A ideia de saber do fim motivaria a finalmente viver a vida como se deve, como se gosta, como se deseja. A maioria de nós continua não sabendo quando vai morrer, mas eu tenho um amigo que não só entende que vai, como tem uma ideia bem mais acertada que nós de quando. E ele vive como se deve. 

     A perspectiva correta de se observar a vida é aquela que coloca a coisa mais importante de todas em destaque, e faz o resto parecer menor e menos importante. O fato é que você vai morrer. E, quando você morrer, mais tarde, hoje ainda, ou em 2077, só vai contar o que realmente importa. E isso não é um lugar-comum, um clichê, isso é fato. Pense sobre isso. Coloque-se no seu velório. Não há mais qualquer movimento que seus pés ou mãos possam fazer, não há mais qualquer dia que você possa viver.

     Passei uma boa parte da vida chorando pelo que não tinha. Um dia, eu tive, e não importou mais. É mais ou menos a mesma ideia, no fim - nenhuma das coisas que nós lutamos pra ter, pelo ter, importa. Nenhum dos sonhos que sonhamos pra nós, que vivemos sozinhos, nossas experiências, nada mais importa. Morre com nosso corpo. Jesus me lembrava hoje, mais cedo, "ajuntai tesouros no céu... Seja a Sua atitude a mesma que a minha...". Ele, sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus era algo ao qual devia apegar-se. Divino, esvaziou-se de Si, assumiu a forma de servo, um homem, como nós. Deixou um padrão inabalável - foi obediente até à morte, morte de cruz. Quais são as coisas às quais eu me apego? Nenhuma delas é maior que Ser Deus. Será que minha própria vida ainda vale tanto assim?

     Tornar-se perfeito e completo é o processo de esvaziar-se totalmente de si, até que aquEle que É Perfeito seja completo em nós. Sou atraída pela ideia de um dia morrer totalmente pra mim, e por Ele. Sou atraída pela ideia de entender que fui chamada pra um caminho de obediência que produzirá frutos a 30, 60 e 100 por um, por uma, uma tão insignificante que não produziria nem 1 por 1 sozinha. Sou atraída pela ideia de ter visão, missão, propósito, e de aprender a abrir mão de tudo que não seja importante ou necessário. De queimar por algo todos os dias, até que eu seja consumida. Sou atraída pela ideia da morte, porque já me foi prometida a Vida Eterna, e é com os olhos fitos nEle, a própria Vida, que eu caminho a passos largos pro meu fim. 
    

1 de fevereiro de 2017

31 Devocionais #26 - Dono de todo meu Amor

      Queimando por essa música e por essa aqui também.

   Quando você conhece o Amor de Jesus, o verdadeiro Amor, sua vida é transformada, invariavelmente. Você não é transformado pelos milagres, pelas palavras que escuta, pela esperança de ter uma vida melhor, mas pela revelação do Amor. O Grande Eu Sou é Amor, tudo começa no Amor, tudo termina no Amor. Porque Ele amou o mundo, amou, ama, sempre amará - ainda que não mereçamos, nunca vamos merecer, mas recebemos de Graça.
    
     E, depois de sentir esse Amor, você começa a descobrir mais sobre Ele, e então entende que tinha sido Ele o tempo todo! A brisa que te acalmou num dia quente, o abraço que você não esperava quando queria desaparecer, o refúgio inacreditável no meio da tempestade, a mão que te foi estendida quando tudo era confuso. O sopro de vida que te fez acordar, cada batida do seu coração, o canto dos pássaros que tornam qualquer dia mais bonito. A morte de Cruz que te trouxe vida, e a ressurreição que agora te traz esperança. Sempre foi Ele, tentando chamar sua atenção, tentando te mostrar a grandeza de Seu Coração e de Seu Amor.
    
     E você descobre que Ele é lindo. Ainda que não houvesse transfiguração, se fosse Ele como raiz de terra seca para sempre, não haveria nenhum outro que se comparasse, que fosse mais belo. Você aprende a enxergar Jesus em tudo, aprende a queimar de Amor por Ele o tempo todo, porque o Amor dEle é o melhor do mundo, e caminhar com Ele é a melhor experiência do mundo, e Ele já era, É, e sempre será o que há de mais incrível no mundo tudo junto. É difícil achar palavras quando você está apaixonada pelo Alfa e Ômega, pelo Maravilhoso Conselheiro, pelo Deus Forte, o Pai da Eternidade, o Príncipe da Paz, o Cavaleiro do Cavalo Branco. AquEle que nunca falha. 
    
     Ser apaixonada por Ele é o melhor que eu já vivi. E eu já fui apaixonada por muitos moços, por muitas coisas, já tentei encher meu coração de tantas coisas, e Ele é o único que enche e transborda. Transborda tanto que vaza, que flui, como rios de águas que saem de mim e fazem vida em outros - fazem vida, porque vem dEle, e nEle estava a vida, e a vida era a luz dos homens. Ele é a minha luz, a luz que brilha em mim, a luz que brilha acima de mim, guiando meu caminho, me aquecendo no frio, me iluminando mais que o Sol, mais que mil sóis. 
    
     Ele é tudo, tudo mesmo, o Dono de todo o meu amor. Nunca vai existir outro que se compare ao meu Amado, e eu sei que meu amor é tão pouco perto do Amor dEle, mas eu quero poder amá-Lo mais, até o dia em que estejamos face a face. Não existe sacrifício, não existe desafio, não existe missão que seja maior ou melhor que Ele, e Ele é o motivo de todo sacrifício, desafio e missão na minha vida. Tudo começa nEle, tudo termina nEle, e eu, perdida por tanto tempo, fui achada nEle também. Eu hoje sou casa de Deus, e Ele é meu Lar. Nunca mais saio daqui.
    
   
     

28 de dezembro de 2016

31 Devocionais #23 - Sobre ser Trouxa

     
   Por definição, o "trouxa" é a pessoa facilmente enganável pela esperança de bondade e reciprocidade na natureza humana. Fazemos papel de trouxa quando repetidamente dedicamos amor, atenção e cuidado crendo numa reciprocidade inexistente, ou esperando uma resposta que nunca virá. Não sei vocês, mas eu já fiz muito papel de trouxa. Tanto papel, que dava pra imprimir a Bíblia neles.
    
     Mas, falando na Bíblia, estive pensando esses dias sobre ser trouxa diante do Senhor. Como cristãos, nós aprendemos que não existe bondade inerente à humanidade. Somos naturalmente maus, e ingratos. Mas, em Jesus, contemplamos uma promessa de Amor que transcende a natureza humana. Somos todos chamados a ser "trouxas" em Cristo, diante dos homens, fazendo pelos outros sempre mais do que eles podem pagar, retribuir ou entender. Não como quem se desgasta pela própria consciência ou pelas próprias expectativas, mas como quem entende que o Senhor é uma fonte inesgotável de Amor da qual somos convidados a beber. 
    
     Em suma, sou trouxa, e vou continuar sendo, em nome do Pai. Vou continuar falando e fazendo por outros mais do que eles talvez mereçam, aos meus olhos, ou de outros. E apenas porque, antes de tudo, recebi eu do Amor maior do mundo, mesmo não merecendo, e ele pesa sobre mim como mandamento.
 

25 de dezembro de 2016

31 Devocionais #22 - Sobre Jesus e Identidade, no Natal

 
O Natal é lindo na Alemanha.

     Minha avó materna está internada há alguns dias, então esse ano não tivemos celebração de Natal. A viagem de 12 dias foi cortada no 2º, todo mundo se reorganizou pra estar aqui e vê-la, cuidar como podiam. Ainda não sabemos se ela passa dessa temporada festiva. Muitas horas na recepção do hospital, ou sozinha em casa, pensando na vida e na morte. Fui tirar um tempo pra ler os evangelhos. Queria pensar em Jesus.
    
     No meu coração eu sempre comemoro Natal e Páscoa meio que do mesmo jeito. Acho impossível falar do nascimento de Jesus sem pensar na morte dEle e vice-versa. E pensar em tudo que Jesus É e fez me levou a refletir sobre Sua identidade.
    
     A passagem do menino Jesus no templo (Lucas 2:41-52) mostra que Ele já bem sabia quem era, aos 12 anos. Aliás, desde quando, será? Talvez desde os 10? 8? Uma criança, crescendo sabendo que caminhava para a morte, a morte mais importante da humanidade. Não vamos todos morrer? Mas Ele sabia o dia, a hora. Ele conhecia o cálice do qual teria que tomar, a missão que teria que cumprir. E não havia nEle medo, porque o perfeito Amor lança fora todo medo, e Ele mesmo É o Amor. Viveu uma vida impecável. Em tudo foi tentado, porém sem pecar. Amou a todos, mesmo conhecendo os corações e discernindo os pensamentos. Foi manso e humilde, mesmo sendo Ele o Verbo por cujo intermédio todas as coisas foram feitas.
    
     "NEle estava a vida, e a vida era a luz dos homens; a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela." (Jo 1:4-5). Jesus viveu intensamente a vida que Lhe foi proposta, e viveu plenamente quem Ele era. Seu propósito era mudar toda a história da humanidade, e estabelecer o padrão pelo qual havíamos de viver. A pessoa mais importante de todas foi chamado por Isaías de "O Servo do Senhor". Qual é a sua identidade, mesmo?
    
     É muito fácil esquecer quem você realmente é diante da grandeza de quem É Jesus - o Amor dEle ora nos exalta, ora nos constrange. Ficamos divididos entre sermos chamados para fazer obras maiores que a dEle, mas sabendo que buscaremos pra sempre ser como Ele, e nunca conseguiremos. Envergonhamo-nos quando Ele ama as coisas que mais odiamos em nós. Somos realeza e co-herdeiros com Ele, através da Sua morte de Cruz. 
     
     A intensidade das minhas emoções faz com que minha alma fique permanentemente grudada à multidão de Sentimentos dEle por mim. Chamamos de carrossel porque subimos e descemos o tempo todo, mas o espírito busca constância. É no mais interno que fica a resposta pras nossas ansiedades e desesperos, porque a alma só se cala ante um espírito que fale mais alto. Não há 1 só dia em que meu coração não clame desesperado e procure em si algum motivo para estar aqui - mas o motivo não está em mim, está nEle.
    
     NEle vivemos, nos movemos, e existimos, porque tudo de bom que encontramos em nós é dEle, por Ele e para Ele. Por amor dEle, e com Ele, enfrentamos a morte todos os dias, para que achemos vida em abundância. Não existe nada que possa me convencer nesse mundo de que sou digna de amor, quer de Jesus, quer dos homens, mas o Amor dEle já está selado. E eu selo o meu Amor dedicando tudo que eu fizer ao Seu Nome. Ele tem meu coração, e toda a minha afeição. Toda a minha confiança. E, se algo pode me motivar a continuar, é a certeza de que eu também sou fruto do Seu trabalho, e, em mim, Ele se alegrará.
     

22 de dezembro de 2016

31 Devocionais #21 - A Morte é Lucro


     A fé cristã nasce a partir da morte. Jesus seria apenas mais um profeta, não tivesse morrido e ressurgido dentro os mortos. A morte e a promessa de vida. Não apenas a vida que respira, que se move pela terra, mas que perdura pela Eternidade, de volta pra casa, ao lado do Pai, através do Cristo.
     
     Os primeiros cristãos, testemunhas da vida, morte e ressurreição de Jesus, entendiam que haviam sido chamados para com Ele morrer e então viver eternamente. Mas não como quem teme a morte e sonha com fartura de dias, mas como quem não teme aqueles que podem apenas ferir seu corpo, e não seu espírito. Todos os apóstolos escolhidos de Jesus foram martirizados pelo evangelho - não por correrem atrás da morte do corpo, mas pelo Amor escandaloso por Jesus, e a disposição de ir até os confins da Terra para cumprir a carreira proposta diante deles. 
     
     Paulo estabelece o patamar de vida que devemos buscar quando diz em Filipenses 1:21 que o viver é Cristo, e a morte é lucro. Se você é cristão e tem medo de morrer, você ainda não entendeu a fé que proclama, você ainda não entendeu a promessa da Vida Eterna. Tudo é vaidade - nada é indispensável, e o Senhor ainda provê tudo por amor a nós. Não há motivo para ansiedade, nem medo. Nosso viver foi entregue à Ele e toda vez que respiramos, respiramos por Amor àquEle que primeiro nos amou. 
     
     Nem todos são chamados para ser mártires pelo Senhor; vários viveram, e viverão, fartura de dias caminhando sobre a Terra com o Espírito Santo. O coração de todos, no entanto, é chamado para as mesmas convicções; viva 20 ou 80 anos com a certeza de que aquEle que te salvou foi Senhor de todos.
     
     Por Amor dEle, já matamos nossa própria carne, nossa própria vontade, todos os dias. Não existe coisa, não existe dinheiro, presente, pessoa ou sentimento mais importante que a certeza de que nosso Pai nos ama, e nos chamou para ir ao mundo, levando Seu Fogo em nosso peito. Não ame sua vida, ame viver pra Cristo. A Alegria dEle é a sua força, e a Vida Eterna é a recompensa que Ele prepara para aqueles que forem fiéis até o fim dos seus dias. 
     
     "mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus." Atos 20:24
    

21 de dezembro de 2016

31 Devocionais #20 - Ainda sobre a Cruz

     Ah, a Cruz, grande símbolo da nossa fé em Jesus. O ato que é o princípio, meio e fim da carreira que buscamos concluir. O Peso e a Leveza do maior ato de Amor da história.
    
     Durante a Guerra Fria, o governo comunista da Alemanha Oriental ergueu uma grande torre de televisão em Berlim, para mostrar o poder e a grandeza da revolução sobre o capitalismo. A estrutura, de 365 metros de altura, foi desenhada para lembrar um foguete na base e no topo uma esfera similar ao satélite Sputnik 1, lançado no espaço pela União Soviética em 1957.
    
     Os regimes socialistas/comunistas possuem ideologias fortemente contrárias à religião, principalmente devido às muitas formas como foram usadas como instrumento de controle das massas contra o sentimento revolucionário. A torre foi inaugurada em 1969, logo após uma sanção do governo do Leste ordenar que as igrejas em seu território retirassem as cruzes erguidas sobre seus telhados. Para a surpresa de todos, quando os raios de luz solar iluminaram pela primeira vez a esfera no topo da torre, a difusão da luz sobre os painéis metálicos fez com que o reflexo lembrasse claramente uma Cruz. 
    
A situação real da torre sob a luz do Sol.
     O episódio ficou conhecido como "A Vingança do Papa" e, apesar das várias tentativas de apagar o erro, o estrago já estava feito. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos, e a tal continua lá, até mais alta que antes (368 metros agora) e com uma Cruz permanecendo brilhando todos os dias sobre Berlim. Não dá nem pra dizer que Jesus não é um cara bem-humorado.

20 de dezembro de 2016

31 Devocionais #19 - Precisamos pensar mais na Cruz

     Texto publicado ontem no meu Instagram. Fez sentido hoje o dia todo. 
     
     Jesus disse que toda a Lei e os profetas dependiam de dois mandamentos - amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos. Um pouco antes de morrer, no entanto, Ele mexe um pouco nas regras do jogo, e aumenta o nível - o novo mandamento era que nos amássemos como Ele nos amou. 
     
     A recomendação de não andar ansioso por coisa alguma cai bem quando tentamos contemplar a grandeza de quem Deus É. Seu Tempo, Seu Poder, Seu Domínio, Seu Trono, Sua Graça, Sua Misericórdia, Seu Amor, Sua Vontade. Quantas coisas permitiu Deus que o homem fizesse, e como nenhuma delas consegue expressar com exatidão a altura e a profundidade do Senhor.
    
     Acho que é por isso que as pessoas enlouquecem. O peso da Eternidade foi escrito em nós, mas este corpo é muito limitado pra contê-lo e entendê-lo. Sem um abraço de Amor do Pai pra dar liga à mistura de pensamentos e sentimentos que povoam a mente de um filho qualquer, o sentido da Vida se esvazia. 
     
     Podemos imaginar que seja essa a razão pela qual Ele escolheu a Cruz como símbolo da nossa fé e do Amor dEle por nós. A estrutura mais simples e óbvia que duas peças podem formar. Tudo é simples no Senhor, no lugar em que Ele nos esconde, nos protege, nos consola. Lança fora todo o medo. Amamos como Ele nos amou porque não existem motivos ou questionamentos, apenas o amar em obediência. 
     
     Todas as minhas ansiedades e preocupações se esvaziam na Cruz, porque o fundamento da fé é simples demais pra que eu deixe minha mente complicar. Tudo que existe em Deus depende do Amor, porque, sem Amor, nada que existe em Deus faz sentido.
    

9 de dezembro de 2016

31 Devocionais #18 - Pra onde eu irei? (sobre o primeiro Amor)

    
     Um dos grandes desafios na vida cristã é a constante volta ao primeiro Amor, aquilo de que o Senhor fala na carta à igreja de Éfeso, em Apocalipse 2. Primeiro Amor fala daquele momento em que você acabou de se apaixonar, e toda a sua vida gira em torno de quem você ama - seu primeiro e último pensamento, o objeto dos seus sonhos, planos, conversas. 

     Muitas pessoas lutam para permanecer no primeiro Amor porque a vida cristã comprometida vem com responsabilidades - discípulos, ministério, eventos, horário, despesas. Com o tempo, essas responsabilidades se tornam o centro da vida, e ocupam o lugar de Jesus - a Pessoa pela qual tudo isso, em teoria, deveria estar sendo feito.
     
     Existem várias maneiras de manter o fogo do primeiro Amor sempre aceso no coração. Algumas pessoas mantém uma disciplina espiritual rígida, e eu acredito muito na importância de garantir que Jesus seja parte real, natural e dominante da nossa rotina. Mas minha estratégia favorita é manter um espírito de constante contemplação diante do Senhor.

     Contemplação fala quase de uma posição de terceira pessoa na história, vivendo e ao mesmo tempo observando tudo que você tem vivido. Uma pessoa capaz de não perder essa visão de "pássaro", enxergando o conjunto, não consegue desviar seu coração do Real Operador dos milagres e da salvação. Muito tempo depois de você ter sido regastado pela primeira vez, seus olhos e coração precisam continuar exatamente onde e como estavam naquele primeiro dia, pra que você, olhando pra tudo que ocorrer na sua vida, não se esqueça de onde você veio. 

     Assim, seu coração nunca vai se esquecer de que, onde quer que você vá, sua vida anda em círculos em torno de Jesus. Não há mais para onde ir, pois só Ele tem as Palavras de Vida Eterna.
    

24 de novembro de 2016

31 Devocionais #16 - A Suficiência

    
     Assim como vários outros jovens nascidos e criados na igreja, eu demorei muito tempo pra tomar uma posição definitiva com Deus. Eu cresci convivendo com uma luta constante no meu coração entre o desejo de estar aos pés do Senhor e a curiosidade pelas coisas seculares, que sempre pareceram tão mais atraentes e interessantes. 
    
     Por muitos anos, eu imaginei como seria caminhar com Jesus, e ser ensinada diretamente por Ele, em carne e osso, como aqueles em seu tempo, especialmente seus discípulos e amigos mais chegados, puderam fazer. Por muitos anos, eu achei que isso faria diferença no meu caminhar com Ele. A Verdade é que Jesus vive em mim - e tem vivido, ou pelo menos estado muito próximo, desde meus 6 anos, quando eu conscientemente o convidei para ser meu Senhor e Salvador, num acampamento de crianças. Ele vive em mim, caminha comigo, fala ao meu coração, e tem demonstrado seu Amor o tempo todo - mesmo enquanto eu tentava inutilmente fugir dEle e me esconder dos Seus olhos. A diferença entre eu aos 18 e aos 21 é a revelação de que Ele é suficiente. 
    
     Em João 14:8, Filipe, um dos discípulos, pede que Jesus lhes mostre o Pai. Àquela altura, já se aproximava o momento em que Ele seria entregue para ser crucificado - ou seja, seus 3 anos de ministério já se encerravam. E, ainda assim, os discípulos não conseguiam entender o que Ele havia dito um pouco antes, em João 14:6 - Ele É o Único Caminho para o Pai. Através de Jesus, chegamos ao Pai, recebemos o Espírito Santo, e somos feitos filhos de Deus e herdeiros com Ele do Reino vindouro. Não são necessárias riquezas, diplomas, seguidores no Twitter, likes no Instagram, nem os montes de livros que li buscando algo que trouxesse satisfação. 
    
     Em nenhum outro nome há Salvação, Amor, refrigério, ou Paz, além do nome de Jesus. Se te parece difícil hoje tomar uma posição diante do Senhor, entenda que nada do que você abra mão te será como um sacrifício quando você abrir seu coração verdadeiramente para que Ele te preencha profundamente. Não há nenhum vão profundo demais que Ele não possa fazer transbordar. Jesus nos leva ao nosso Pai, nosso Verdadeiro Pai; Jesus nos leva de volta pra casa. E, afinal, Filipe estava certo: isso nos basta.
    

21 de novembro de 2016

31 Devocionais #15 - Multiplicação

    
     Deus é um Deus de impossíveis, de milagres! E Ele nos mostra, ao longo da história, que um de Seus milagres favoritos é o da multiplicação. Ele não apenas multiplicou os pães (2 vezes!), mas têm multiplicado tudo ao nosso redor desde muito tempo.
    
     O Senhor multiplica as coisas em quantidade - como Ele prometeu à Abraão que faria com sua descendência (Gn 15:5). Ele multiplica nosso conhecimento, nossas armas, multiplica nosso pão, nossas bênçãos, multiplica nossa fé, e toda Glória é dEle! Jesus multiplicou a pesca de Pedro, Tiago e João, multiplicou o azeite e a farinha da viúva que alimentou Eliseu. Multiplicou a igreja a partir dos Seus 12 discípulos. Na história de Gideão (Jz 6 e 7), porém, o Senhor deixa claro que, mais do que quantidades, Ele é interessado em multiplicar em qualidade.
    
     Quando os midianitas se levantaram contra Israel, Gideão encontrou 32 mil homens que lutariam contra os 135 mil do exército inimigo. Interessava ao Senhor libertar Israel da opressão dos midianitas; porém, interessava à Ele que os israelitas soubessem que seu Deus era com eles e que Ele os havia livrado da derrota, então Ele reduziu os 32 mil homens à 300. O Senhor reduziu o exército ao grupo de homens mais corajosos, para que tivesse o melhor do grupo em Suas mãos, e total liberdade para operar um grande milagre de multiplicação de possibilidades naquela batalha.
    
     O Senhor promete que multiplicará o pão, mas nem sempre promete que multiplicará os nossos exércitos. Na Cruz, nós temos uma eterna promessa de vitória. Se parece que suas forças e seus homens têm se minguado, saiba que Ele não é homem para que minta - se Ele não multiplicar seus números, Ele multiplica suas chances de entrar em chamas com o menor resquício de fagulha que restar.
    

11 de novembro de 2016

31 Devocionais #11 - Eu falhei

    
     Eu falhei.
     
     Este é o texto nº 11 desta série de devocionais, mas, postado neste dia, deveria ser o nº 12. Isto porque, ontem, minha desorganização e o cansaço me venceram e eu definitivamente não consegui cumprir com meu propósito. Perdi um dia, e nem consegui me levantar de madrugada pra tentar fazer a todo custo. Falhei.
     
     Parece pouca coisa pra quem vê de fora - ainda que possamos falar de qualquer coisa ligada à compromisso, seriedade, desafiar-se, etc. Acontece que o mais importante não é o compromisso que eu tenho comigo mesma - por mais bobo que isso pareça, estes textos são um propósito feito e selado diante do Senhor. Em Mateus 5:37, nos ensinamentos do Sermão da Montanha, Jesus diz que a Palavra de um cristão deve ser fiel em si mesma - nosso "sim" deve ser "sim", e nosso "não" deve ser "não". Isso demonstra não apenas um compromisso com a verdade e a honestidade, mas o peso e a importância de tudo aquilo que dizemos, tanto diante dos homens, ainda mais diante de Deus.
     
     Estes textos são um propósito de louvor e dedicação a Deus, mas, como discutido nos dias anteriores, tudo que nós fazemos deve ter um propósito de louvor e dedicação a Deus. Até as menores coisas. Mas, apesar do peso que a falha traga sobre meu coração, a Bíblia nos conta que nós temos Graça ao nosso alcance, e um Sumo-Sacerdote que não só é capaz de compadecer-Se das nossas dificuldades, mas que nos mostra com Seu exemplo que é possível ser plenamente Fiel. Ontem, eu falhei, mas hoje eu me levanto e continuo.
     
     "Como posso retribuir ao Senhor toda a sua bondade para comigo? Erguerei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei para com o Senhor os meus votos, na presença de todo o seu povo." Salmos 116:12-14
        
     
      

31 de outubro de 2016

31 Devocionais #1 - O Centro da Vontade de Deus

   
      Antes que fosse crucificado, Jesus foi levado perante Pôncio Pilatos, governador da Judeia, para que fosse condenado segundo a lei Romana. Os Evangelhos relatam que este o interrogou, buscando encontrar nEle algo que justificasse as acusações levantadas. Para sua grande surpresa, Jesus não busca justificar-se, nem provar sua inocência, como seria esperado de qualquer homem contemplando pena de morte. O diferencial em Jesus era seu senso de identidade e propósito. Ainda que fosse muito doloroso o cálice do qual ia tomar, Ele sabia que o preço a ser pago era pequeno diante da importância de que tudo se cumprisse. Sua Cruz, Sua dor e Seu castigo eram a parte mais importante de seu ministério na Terra.
   
     Assim como Jesus, cada um de nós também foi criado e chamado para cumprir um propósito específico. E, assim como Jesus, fomos chamados para uma vida de sacrifícios. Não é à toa que em Lucas 9:23 Ele diz que quem quiser ir segui-Lo precisa tomar sua própria cruz e negar-se - cumprir o propósito de Deus para a sua vida vai contra sua natureza humana, pecaminosa e egoísta. Para viver plenamente os sonhos de Deus, você precisa também sonhar os sonhos de Deus, e não os sonhos do seu próprio coração. Para estar no centro da vontade de Deus, você precisa se afastar da sua própria vontade.
   
     Em João 19:10-11, quando Pilatos O confronta acerca de seu silêncio diante das acusações, Ele responde que a autoridade para condená-lo não vem do governador, mas de Deus. Quando nós estamos no centro da vontade do Pai, tudo que acontece em nossa vida vem para cooperar para o nosso bem. O melhor bem que Jesus podia receber naquele momento era sua condenação, pois o castigo sobre Ele nos traria vida.
   
     A única forma de fugir da nossa própria estupidez é nos mantendo no centro da vontade de Deus. Este é o lugar onde vivemos intensamente apenas o que Deus tem pra nossa vida. Muitas vezes, o que Deus tem pra nós é dor, perda, e grandes sacrifícios. A boa notícia é que as aflições que Ele traz ainda cooperam juntamente para o nosso bem, e para o bem de outros - Ele enxerga muito adiante do que nós, e o melhor que podemos fazer é crer na soberania do Senhor e ainda nos alegrar nEle. Ainda que os caminhos do propósito do Senhor te levem diante de acusadores ou até uma cruz, mantenha acesa dentro de você a certeza da Glória vindoura.