Hoje acordei
cedo, contra a minha vontade. Havia muito a ser feito. Tantos desenhos, tantos
trabalhos, tantos textos. Apressei-me em terminar o que de imediato era
necessário, para que pudesse deitar-me novamente.
Dormi sem nem
perceber.
Sonhei que, sentada
em uma sala, pensava sobre a vida.
Está chegando
novamente aquela época do ano. Aquela época em que ele se encerra, pra que
outro comece.
Todo ano ocorre a
mesma coisa. Dúzias de expectativas, centenas de ideias e planos. Doze meses se
passam e nada muda. Minha vida continua basicamente a mesma coisa. Engano minha
consciência com as mesmas meias verdades e descaradamente minto pro meu
coração, dizendo que tudo ficará bem. Ah, vida curiosa essa. Vivemos em ciclos
de doze meses. Acreditamos que neles está contida toda a magia da existência.
2012 talvez
esteja sendo, de longe, o melhor ano da minha vida (desde 1995). Amadureci a
níveis que nunca julguei possíveis. Conheci mais pessoas que jamais havia
conhecido dentro de um só ciclo. Algumas terríveis. A maioria incrível, por
sorte.
Apesar de tanta
positividade, duvido que em um só ano meu coração tenha dado tantas voltas
dentro do meu peito, ou tenha corrido tanto atrás do próprio rabo. O maior
ensinamento do ano? Pro inferno com a superficialidade e as aparências. Você mesma
esconde tanto por trás da sua casca (um pouco mais gordinha que no ano
anterior). Dezessete anos depois, finalmente entendeu o quão pouco ela
representa.
Fiz uma amiga
imaginária também. Mais uma, na verdade.
Estou noiva da
Arquitetura. Caso-me em breve.
(Nesse momento, a sala, até então vazia,
começou a encher-se de sons. Aos poucos, tomava forma ao meu redor um jantar de
Natal de filme estadunidense. Várias pessoas passavam por mim. Algumas me
atravessavam. Um senhor de barba branca foi o único a me notar, e a perguntar
se eu tinha fome. Disse que sim. Ele sumiu. Todo o resto sumiu também.).
Continuei pensando.
Passeei por lojas
decoradas pro Natal enquanto mal havia terminado o primeiro período da
faculdade. A maioria acharia isso um saco. Talvez um paradoxo sobre nossa
existência atrasada. Eu sento e me agradeço pela greve.
A greve foi
bondosa em haver nos escolhido, em haver escolhido 2012. Meu 2012 não estaria
sendo tão bom não fosse por ela.
(O vazio da sala começou a tomar formas de uma
construção quase medieval. Parecia uma taverna. Vários brasileiros vestidos
como vikings passaram por mim. Um japonês magrelo e uma linda de olhos grandes
vieram até mim e disseram que já havia passado da minha hora de dormir.
Cochilei em sonho. Acordei na vida real).
Sentei-me na cama
e enrolei-me nas cobertas – apesar de não estar tão frio assim; estava com
fome. Eram 18h. Estava dormindo desde as 11h30. Olhei ao meu redor, procurando
os contornos da taverna, e qualquer rosto familiar. Apenas paredes brancas e os
móveis do meu quarto. Não gosto de bebidas alcoólicas, mas naquele momento
aceitaria qualquer coisa que viesse de lá. Sentia falta.
Tentei pegar no
sono mais uma vez, mas já não estava mais tão cansada. Escutei o barulho da
televisão ligada na sala. Uma propaganda de Natal, com músicas típicas ao
fundo.
A época mais
bonita do ano.
Filosofei sobre
as renas e até fingi que era um elfo. Convidei meus amigos imaginários a se
sentarem comigo na cama. Contei pra eles sobre meu sonho. E sobre meu coração. Falei
de todas as pessoas que haviam ido e voltado na minha vida. Abraçaram-me. Disse-lhes
que estava encantada. Perguntaram-me o que havia me encantado. Tive medo de
admitir para mim mesma, então não quis contar para eles. Mas eles sabiam. Eram parte
de mim.
Brincamos de
cantar músicas de The Rocky Horror Picture Show, até que caíram no sono. Eu permanecia
acordada. Ao fundo, a canção natalina continuava tocando.
Foi quando
percebi que ainda estava sonhando.
Um sonho dentro
de outro sonho.
Fiquei presa lá
por várias horas ainda.
Teria ficado por
ainda mais tempo. Porém, tinha um compromisso importante às 8h, no dia
seguinte. Não podia perdê-lo.
Não podia perdê-lo.
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