13 de novembro de 2012

Não gosto de andar de ônibus

      Fui uma daquelas meninas mimadas que eram carregadas de carro pelos pais pra cima e pra baixo até os doze apenas. Aos onze comecei a me aventurar a pegar ônibus sem uma tia ou prima por perto – só aos treze que mamãe deixou que eu começasse a andar sozinha por mais que quatro ou cinco quarteirões. Lembro-me de, na oitava série, aos treze, ir e voltar do colégio utilizando transporte público. Aquilo, pra mim, era um sinal de maturidade. Eu estava crescendo.
    
      Hoje, cerca de quatro anos depois, já saí do ensino regular e entrei na universidade. Uma das entradas para o campus da UFU – por sorte, o mais próximo dos blocos em que tenho aulas – fica a cerca de dezoito quarteirões da casa em que moro, na mesma avenida até. São apenas três ou quatro paradas do ônibus, sem muitos esforços.
    
      Apesar de mamãe me levar na maioria das vezes (quase dezoito anos na cara e ela ainda sente pena de mim ao pensar que estou andando sob o Sol), sempre que não estou atrasada – raras situações – e ela está ocupada o suficiente para me deixar ir sozinha, eu opto por descer a pé a avenida. Fico alternando entre as calçadas, me descabelo completamente e acabo com aquele cheiro de vento de cidade. A volta é uma subida consideravelmente mais pesada (e geralmente já estou mais cansada do que gostaria, nessas horas de retornar), mas, ainda assim, gosto do trajeto.
   
      No ônibus, as pessoas me observam o tempo inteiro. Puxam assunto. Questionam a música que escuto. Julgam-me louca se falo comigo mesma. Ali não posso cantar, não posso dançar – sim, eu danço no meio da rua. A velocidade é, pra mim, o único atrativo do transporte público.
    
      Existe algo maravilhoso sobre andar, sozinha. Descobri isso em uma ocasião em que calculei incorretamente meu dinheiro e, entre muitas impressões de trabalhos da escola, não havia sobrado o suficiente para pegar um ônibus. Estava no Terminal Central, a uma distância considerável da minha casa – cerca de quatro quilômetros. Não vou mentir, havia vários meios de conseguir uma carona de volta. Mas, no fundo, eu não queria. Queria descobrir o que aquela distância representava.
    
      Foram cinquenta minutos interessantíssimos. Cantei, conversei com meus amigos imaginários, criei infinitos diálogos que jamais ocorreriam, fui educada e sorri aos vários estranhos que passaram por mim, e pensei tanto na minha vida que nem consegui me lembrar depois das decisões que tomei. Ao chegar a casa, meus músculos se contraíam involuntariamente, e eu sentia muita fome – um senhor muito gentil deixou que eu levasse uma garrafa d’água por metade do preço, na metade do caminho.    
    
      Na semana seguinte, mesmo tendo dinheiro suficiente para ir e voltar várias vezes, escolhi repetir a experiência. Igualmente interessante. Tenho alguns flashes de lembrança mais nítidos.
    
      Semana passada, em um dia em que seria totalmente desnecessário e imprudente ir à UFU, insisti em fazer o caminho. A ameaça de chuva não me assustava. De fato, na metade do caminho, ela começou a cair. Valeu a pena, de uma forma ou outra. É uma forma de estar comigo mesma, e só. Estou sempre tão cercada de gente – em casa, na faculdade, na cidade. É bom aproveitar esses nichos de solidão.
    
      Ano que vem completo os tais dezoito e, alguns meses depois, espero já estar com minha habilitação e meu carro. Em breve me mudo pra uma casa vinte quarteirões mais distante da UFU que a em que moro atualmente. As coisas certamente mudarão, no que concerne esse trajeto até a universidade.
    
      Mas há tantos outros caminhos a se descobrir.

Um comentário:

  1. Eu nunca havia pensado dessa maneira. Talvez pegar ônibus seja uma experiência interessante, mesmo que só por algum tempinho. Obrigado pelo texto maravilhoso, me ajudou bastante!

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