Éramos como dois filhotes de jumento, sonhando em ter asas
para fugir de Creta.
Fomos solitários juntos por muito tempo.
Solitários porque chatos. Chatos porque solitários.
Desentendíamo-nos da forma mais amigável possível. Entendíamo-nos
da forma mais mal educada possível.
Passamos pelas fases mais difíceis lado a lado. Acabamos nos
acostumando com nossas chatices e frescuras. Como irmãos de alma. A cada ano,
refletíamos sobre o passado como se mês passado fosse muito tempo atrás.
Hoje, quase sete anos depois, parece que ontem mesmo nos
conhecemos.
Aparecia lá em casa às vezes sem avisar. Mamãe já esperava
sua presença. Comia muito. Perdia peso com o tempo. E cresceu, como cresceu. Ficou
tão alto.
Fizemos nossas asas usando penas de aves imaginárias,
coladas com fé e esperança. Deixamo-las escondidas numa sala cordiforme, sem
portas ou janelas, que só o futuro poderia abrir.
Também tivemos nossos tempos de rompimento. Coisas demais
sempre eram ditas, mas às vezes elas doíam demais. Foram dias de desespero,
esses em que nos tratamos como estranhos.
Porém, foram bons dias de desespero. Bons porque, um dia,
acabaram. Terminamos a primeira fase com uma vida de sobra.
Hoje, Ícaro já cresceu o bastante para usar as asas que
fizemos. Realmente podíamos ser pássaros, afinal.
Alçou voo alguns dias atrás.
E, se um dia o calor da vida mirrar a cola que segura suas
penas, eu estarei lá para que o mar não o engula.
Belo texto que vc escreveu, um presente muito bonito para uma pessoa que te é importante.
ResponderExcluirVou dar uma volta pelo seu blog.
Bjos
Muito obrigada! Espero que goste de outros textos que escrevo!
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