24 de março de 2011

Sobre o tempo, desenhos e pessoas.

Ontem eu me peguei em um momento de muita nostalgia. Não sei se seria bem um momento – segundo um livro de medidas inglês, um momento corresponde a 90 segundos, e eu definitivamente gastei mais do que isso. A questão é que meu sofrimento foi devido a um momento de recordações dos desenhos animados que eu assistia quando crianças.
Não seria útil mencioná-los, pois acabariam originando uma discussão que não tem parte no meu plano. Mas, de fato, essa lembrança me perturbou por horas, me afligindo com suas personagens inesquecíveis, musiquinhas impagáveis e jargões que continuamos a repetir, mesmo que inconscientes da origem. Assistindo aos vídeos, e sentindo uma imensa falta de tudo aquilo, acabei chegando a uma conclusão interessante a respeito de mim mesma.
Minha mãe costuma dizer que ela desconhece outra pessoa que goste tanto de fazer aniversário quanto eu. E essa é a pura verdade, eu amo a passagem do tempo. Amo observar como tenho mudado, e imaginar como estarei daqui a alguns anos. Mas, você imaginaria, uma pessoa assim não deveria sentir-se nostálgica. Foi então que a tal conclusão apareceu de súbito e me deu um soco no nariz.
O que me machuca não é a renovação do tempo, mas a renovação das coisas. Não de qualquer tipo de coisa – você nunca me verá sofrendo pela obsolência do iPod, ou do Pentium 4 – mas das coisas às quais me apego, aquelas que me envolvem efetivamente e que, intimamente, afetam minha alma e até meu espírito. Porém, além do sofrimento pela “dialética natural” das coisas, eu sofro pela dialética das pessoas.
Meu pai percebeu minha dificuldade em desapegar das pessoas quando eu era ainda uma criança – e, diga-se de passagem, estou na espetacular idade de 16 – e sempre me disse que, infelizmente, eu deveria me acostumar a tudo isso. Mas não, não, eu me recuso. Eu não quero esse tipo de mudança na minha vida!
Essa postura pode soar não só egoísta, mas também mimada, porém fico muito amargurada quando penso que este ano – a 3ª série do Ensino Médio – pode ser o prazo final para a maioria das minhas amizades. E, de fato, isso acontece com muito maior frequência do que eu gostaria de admitir. Às vezes escuto pessoas dizendo “Ah, aquela pessoa ali foi uma grande amiga no colegial”. E, ao mesmo tempo em que fala, a pessoa passa, e são como dois estranhos. Seguem suas vidas, vidas que talvez tivessem sido planejadas em conjunto, prevendo futuros encontros que, com certeza, não foram imaginados de forma tão fria e distante, como se o tempo facilmente apagasse qualquer coisa que ali existira.
Não, não, não pode ser assim! O tempo não apaga tudo assim. O tempo encobre, mascara, esconde, mas bastam meios momentos – talvez menos de 45 segundos – para que tudo aquilo seja revelado. Toda dor – bem como toda alegria – explode como um banho de canivetes ou de água morna sobre a alma. Eu, pessoalmente, não gasto meu tempo pensando na dor que reencontros possam me causar. Acho bem mais sensato o esforço em manter aquela chama mágica da amizade, um fogo que consome toda e qualquer coisa ruim que está a nos circundar, ainda que seja só naquele momento.
Meus amigos são a minha alegria, meus irmãos. Eles me animam, me consolam, me dizem a verdade, me fazem acreditar em mim mesma. Eles são como aqueles desenhos da minha infância, que me traziam a pura alegria de simplesmente viver. Querer nem sempre é poder, e meus esforços podem acabar indo, por completo, rio abaixo. Mas, enquanto eles estiverem por perto, eu sorrirei melhor, chorarei melhor, ouvirei melhor e verei melhor. E nenhum outro grupo de amigos poderá me fazer viver da mesma forma. Não estou dizendo que a fatalidade da mudança seria como a morte, porém, pessoas continuam sendo insubstituíveis.
Eu já aceitei que o poder das circunstâncias acaba vencendo o meu próprio poder em algum ponto da vida, então eu treino minhas habilidades de consolar-me através da nostalgia usando a televisão. Eu tenho plena certeza da importância desses amigos para mim agora e, por enquanto, isso basta para minha alma.

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