28 de fevereiro de 2014

Promessa

Eu tenho promessa a cumprir, meu bem.
Promessa comigo, promessa contigo.
Promessa de Amor e Cuidado.
Mas eu não consigo cumpri-las duas, meu bem,
Já que estamos tão separados.
Pois eu quero ser feliz, quero muito,
Mas, acima, quero-te feliz.

A tua felicidade e a tua tristeza me doem o peito em todo tempo.
Pois teu sorriso, tão grande e bonito, não é meu.
E tuas lágrimas, tão secas e salgadas, se acumulam dentro de ti.
Mas não há como que eu encontre felicidade aqui
Sem que eu sacrifique minhas promessas para contigo;
Essas promessas pequenas.
(Tão pequenas que cabem na palma da minha mão)

Eu não sei qual promessa manter, meu bem.
Eu não sei o melhor a fazer, eu não sei qual caminho tomar.
Eu não sei se é egoísmo se te deixo pra trás.
Mesmo que sempre exista alguém para ocupar o meu lugar.
E eu não sei o que fazer do altruísmo dessa vez.
Eu não sei se quero tanto ser feliz;
Eu não sei se quero tanto ser feliz, assim.


21 de fevereiro de 2014

Luto


Eu não me sentarei aqui, senhor,
Só porque você acha que eu deva me sentar
Enquanto estou de luto,
Só porque estou de preto;
Pois eu não choro, senhor, não mais; repare
Nesses braços nervosos,
Nesses olhos ansiosos
Por definirem um novo caminho a seguir.

Eu não me calarei de vez, senhor,
Só porque você acha que eu deva me calar
Se a minha voz já não sai de cima, como antes;
Pois eu não sou de morte, não sou desânimo,
Não farei da perda minha morte certeira,
E não estou de luto pela vida inteira;
Mas eu luto, e a luta não para,
E a Vida não para, ainda que nos escorra pelos dedos frios.

Mesmo sendo tão menor que o [mundo] todo,
Somos nós todos um mundo só,
E não nos deixamos sentar por mais que um minuto;
Eu não me deixo descansar enquanto exista AR.
E eu também não permito, senhor,
Que você, ou outros, digam que tudo acabou;
A minha estrada só começou,
E a nossa luta não terminou.


7 de fevereiro de 2014

Tu és o Sol que ilumina minha janela



Se eu sou uma casa, um templo, uma edificação,
Tu és a Luz, és o Sol, que me traz calor e iluminação,
Mas só fica de fora, nunca entra, não passa da porta,
E pelas janelas fechadas te vejo sorrindo, sorrio de volta.

É bom que tu venhas, e dance na grama do jardim
Teus raios encontram as esquadrias cerradas de mim
E formam sombras dançantes nas paredes de dentro
E eu me sinto segura, feliz e aquecida, no momento.

Tu és tão mais brilhante que aquilo que eu possa tocar
Por isso te deixo de fora, distante, fácil de olhar
Fácil de olhar sem que percebas, e é assim que precisa ser:
Deixa que eu fique aqui, sozinha; só me faça aquecer.

Mas, por favor, não se esqueça de que, mesmo escondida, estou aqui.  



4 de fevereiro de 2014

Eu não sei o que podemos fazer, Maria

     Eu também tô ferrada, Maria, eu também tô ferrada. Não tô sabendo pra onde eu vou, de onde eu vim, o que fazer. Eu tô desanimada, Maria, eu tô desanimada. Eu tô cansada. E eu tô precisando mudar, revolucionar minha vida. Mas eu não sei o que fazer, eu realmente não sei. Eu tô perdida, Maria, eu tô tão perdida quanto você. Pra onde a gente vai agora, Maria? Eu não tô enxergando o caminho.
     
     E eu tô apaixonada, Maria. Tô apaixonada, de otária que sou. Tô sem saber pra onde eu vou com isso. Eu não queria, Maria, eu juro que não queria. Mas daí foi maior que eu, mais forte que eu. Eu fico sem saber o que vai ser, é sempre tudo tão difícil pra mim. Pra nós, né. A gente se magoa tanto. Eu tô apaixonada, mas isso não me dá mais vontade de viver, não tanta quanto eu preciso, e queria. Eu queria fazer alguém feliz, Maria, é por isso que eu amo. Mas até os meus amados amigos estão infelizes e eu tô deixando, Maria. Você tá infeliz, e eu não consigo fazer nada. Eu não mereço nada bom, Maria.
     
     Mas eu queria merecer, sabe, Maria. Eu queria. Mas eu não sei o que eu devo fazer. Eu não sei o que você deve fazer. Eu não sei de nada, Maria. Eu só finjo que sei, e as pessoas compram a ideia. Isso é ridículo, Maria, é ridículo que eu ainda precise fingir. É só comigo que as coisas são assim, ou é com todo mundo? Por favor, diz que é com todo mundo, Maria, e me diz que todo mundo no mundo é igual. Todo mundo no mundo carrega uma cruz. Maior ou menor, sempre é a mesma cruz. As mesmas dores, as mesmas dúvidas, os mesmos problemas. Eu tenho todos esses problemas que todo mundo tem, Maria, e eu não sei o que fazer com isso. Eu não sei mesmo, Maria. Eu não sei.

3 de fevereiro de 2014

Do clichê dos corações viajantes



Das melhores viagens, não se volta totalmente;
Fica o coração, um pedaço da alma, um sorriso travado,
Preso entre as pedras da rua –
Da última rua em que pisei, antes que fosse embora.

Das melhores viagens, não se esquece totalmente;
O tempo e o vento transformam as boas e más lembranças
Em um só sopro de memória, revigorante e fresca
Como a brisa do nascer do Sol depois de uma noite virada

As melhores viagens não são superadas totalmente;
E qualquer forma de retorno causa a insegurança
De não experimentar da mesma intensidade, da mesma alegria,
E preservar a beleza dos momentos únicos experimentados.