3 de julho de 2011

Sobre o vencido de Augusto dos Anjos


“Este ambiente me causa repugnância...” – Augusto dos Anjos

O vento afastado e dobrado,
a terra molhada e pesada,
as tumbas vazias e frias,
as pedras escuras e nudas.

Nem líquens, nem musgos.

Como se a chuva passada
trouxesse a luz e a vida,
e revirasse a terra maldita,
de morte eterna manchada.

Vermes e múmias aguardam.

E, quando reflete o luar,
acordam, esticam e salgam;
os filhos bastardos e sujos
do Carbono e do Amoníaco.

Tão Hipocondríacos e Cardíacos.

Os nervos tão paralisados
já não sentem mais qualquer dor,
e as juntas travadas, sem fluidos,
rangem como mármore a quebrar.

Sem olhos enxergam, sem orelhas escutam.

E segue-se enfim madrugada
de corpos putrefos e peitos abertos,
corações sem pulso, aflitos,
recordam amor e feridas.

Antes que acabe a noite dos vencidos.

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