14 de fevereiro de 2016

Dia da Consciência Solteira

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     Uma das datas comerciais mais irritantes de todas deve ser o Dia dos Namorados. A piadinha do Dia da Consciência Solteira vem bem a calhar nesse ambiente de imersão na cultura do amor e da paixão que ocupa os shoppings e as mídias na proximidade da data. Este ano, morando em outro país, passei pela experiência de duas celebrações num espaço de tempo de oito meses, entre o 12 de Junho brasileiro e o presente 14 de Fevereiro. Acredito que curta distância e o fato de ter passado a última data acompanhada tenham me deixado mais pensativa que de costume.
     
     Observar tudo que já vivi até agora, do ponto de vista da experiência, me faz perceber como eu permiti que a famosa CARÊNCIA direcionasse minhas escolhas de vida. Relacionamentos que não terminam bem não necessariamente significam que tenham sido experiências ruins, e tudo sempre traz muito aprendizado. Mas, talvez, com um pouco mais de reflexão, muita gente não iria adiante quando fosse o momento de avaliar se era hora ou não de dar um próximo passo. No entanto, situações ideais aos nossos olhos humanos costumam nos convencer de que a vontade de ter alguém com quem viver coisas lindas seja suficiente, sem avaliar o quão sólidas são as bases em que o amor deveria ser construído.
    
     É essa mesma carência que cria tristeza nos corações que estão solitários no dia de hoje. É difícil não se pegar olhando pra janela em silêncio diante das fotos e textos que enchem o feed do instagram e do facebook, ou questionando se a pessoa certa vai chegar, algum dia. E isso é algo realmente muito sério, porque muitas pessoas estão se magoando por aí em troca de ganhar um presente ou ter pra quem falar "Eu te amo!" antes de dormir - e isso não é problema de adolescente. 
    
     Vejo muita gente falando sobre como é bom e importante que os solteiros curtam seu tempo sozinhos, mas vejo pouca gente na verdade entendendo isso na essência. Eu acredito que o ser humano tenha sido criado para estar sempre em pares, em grupos, mas nós somos indivíduos, acima de tudo. Dentro da sua cabeça, ficam só você e Deus. E se você não aprender a se virar do avesso, e se conhecer, e se apreciar, você não pode esperar saber fazer isso pelos outros. Nossa convivência coletiva é aperfeiçoada em nós mesmos, mais do que no coletivo, porque a base dos bons relacionamentos é tratar o outro como você gostaria de ser tratado. 
    
     E do que você gosta mesmo?
     
    

Single Awareness Day

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    One of the most irritating comercial celebrations must be Valentine's Day. The "Single Awareness Day" pun fits well the situation, in which we are forced to cope with Love being in the air everywhere we go. This year, living in the UK, I had to experience Valentines Day twice in 8 months, between the brazilian 12th of June and today, the 14th of February. I believe that the short amount of time and the fact that I actually had a boyfriend last year have made me quite thoughtful.
     
     Thinking about everything that I've ever been through, from the distance of experience, has made me realise how I've already allowed my needs to guide me to poor life choices. Relationships with bad endings weren't necessarily bad relationships, and every experience is an excellent opportunity for us to learn a lot about ourselves and others - but, maybe a little bit more thinking and pondering would have kept people from going forward in situations that were clearly made to step back. However, we are easily deceived by our eyes, and some situations just seem so ideal that we are not conscious enough to see the fragile base on which the love we believe to be building stands.
     
     It's this same need that saddens the lonely hearts on Valentine's Day. It's hard not to catch yourself staring blankly at your bedroom window after scrolling through your Facebook and Instagram feeds, questioning whether Mr. and Mrs. Right will ever come to you. And that's one serious issue, because a lot of very nice people are getting hurt in exchange of cheap gifts and late night "I love you" texts. And not only the young ones, I'm afraid.
     
     I've already heard so many speaking about the perks of being single and how important it is to enjoy this time of our lives, but most of them still don't quite get the point of it. I believe that human beings were created to be in groups, to live in pairs, but, at the end, we are individuals, above everything else. No one else is allowed inside your head, but yourself and God. And if you never learn how to turn yourself inside out, and know yourself, and love yourself, you can't possibly expect to do the same for others. Our collective coexistence is perfected in ourselves, more than in the midst of everyone, because good relationships are based in treating others the way we would like to be treated.
     
     And what would you like, anyway?
     
    

4 de fevereiro de 2016

Once again, Friend's Day.

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     A reasonably famous campaign defends that, in christian life, Christ is first, others are second, we are third. I agree with that - I've already been led to believe that I would only be fit to live in society once I could comfortably live with myself. Today, I realise that my ways are better perfected in the midst of people and the hardest trials that society can put us through.
     
     When you move out, and leave your comfort zone, you obviously learn a lot about yourself, but also about the true meaning of friendship, partnership, trust, honesty. Extreme situations have this power of revealing the best and worst about everything, and distance reveals the real intensity of the relations that are part of our everyday life. You also spend a lot of time on your own, thinking about nothing and scrolling through your Whatsapp contacts list.
     
     That's not necessarily wrong, or bad. We may be social beings, but we are still individuals, essentially, and always end up on our own. I used to be someone perfectly happy with being lonely, because that was all I knew back then. Nowadays, I may appreciate it sometimes, but I've been blessed enough to meet people who accepted me with all my oddities and peculiarities, and who were bold enough to convince me to tear down my walls. The ones that I love, look up to and wants the most around me are those who have truly touched my heart, those that I miss when all that's left is the Holy Spirit and I, staring at the cars on Eastern Boulevard.
     
     I dedicate this text, first of all, to Jesus, my best friend, the One who first loved me; to my family, the first ones to have my back when I need; to the old friends, those who have been loving me since I wasn't quite loveable myself; to the friends who stick closer than brothers, always welcome at my own home; to the everyday friends, the ones who fight with me the battle of reaching adulthood; to the friends that are with my in this pilgrim's journey in this land, the ones who use my toilet and with whom I share the bread, the tears, with whom I eat salt; to the friends in faith from home, the ones who were kind enough to believe in me when I couldn't, and who always cover me with their prayers; and to the friends in faith from my new land, the ones who daily reassure me that, as hard as things may get, I'm finally making my way in this world.
     
     Not every friendship is meant to last forever, but any friendship can be amazing while "forever" seems to fit within a few weeks, months, years. I am very thankful to every person that was, is and will be part of my life. I'm also happy to have been part of the lives of so many incredible people, and I hope that I've touched their hearts as deep as they've touched mine. At the end, this text is dedicated to all those who offer me memories that make me look back sometimes, just to realise how worth living my life has been. Thank you. 
     
     

(Mais um) Dia do Amigo.

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     Uma campanha bem famosa por aí que defende que, na vida de um cristão, Cristo vem em primeiro, nosso próximo em segundo, e nós ficamos em terceiro. Eu assino embaixo - já me levaram a acreditar que eu só estaria apta a viver em harmonia com a sociedade quanto estivesse bem comigo mesma. Hoje, eu percebo que me aperfeiçoo mais enquanto indivíduo no coletivo, entre as muitas pessoas que me ensinam e a quem eu ensino todos os dias. 
    
     Quando você se muda, e sai da sua zona de conforto, aprende muito sobre si, e também sobre o verdadeiro significado de amizade, parceria, confiança e sinceridade. Situações extremas têm o poder de revelar o melhor e o pior em qualquer pessoa, e uma nova distância revela também qual a verdadeira intensidade das relações que permeiam nossa rotina. Mas você passa muito tempo sozinho também, pensando na morte da bezerra e rolando a lista de contatos do Whatsapp, procurando com quem conversar.
     
     Isso não é necessariamente errado ou ruim. O ser humano é social, mas é essencialmente indivíduo, e no final sempre estamos sozinhos. Eu já fui uma pessoa que se regozijava na solidão, porque era tudo que eu conhecia. Hoje, eu a aprecio em alguns momentos, porém fui abençoada o bastante pra conhecer pessoas que me abraçaram em toda a minha esquisitice e peculiaridade, e tiveram a ousadia de me convencer a quebrar minhas muralhas. As pessoas que eu mais amo, admiro, e quero por perto, são aquelas que conseguem tocar meu coração, aquelas que me fazem falta quando somos só eu e o Espírito Santo sentados na janela, vendo o trânsito da Eastern Boulevard.
     
     Dedico este texto e agradeço à Jesus, meu melhor amigo, aquele que me amou primeiro; à minha família, aqueles que sem sombra de dúvida estarão sempre lá pra mim; aos amigos de sempre, que me amaram desde quando eu não era muito amável; aos amigos que se sentam à mesa com minha família, e são pra mim como irmãos; aos amigos de todos os dias, que desbravam comigo as muitas canseiras dessa vida universitária; aos amigos que são comigo peregrinos nesta terra estranha, que usam meu banheiro e com quem eu divido o pão e como sal; aos amigos de fé de casa, que me abraçaram nos momentos difíceis e me cobrem de orações todos os dias; e aos amigos de fé da minha terra nova, que me dão a certeza todos os dias de que, apesar das dificuldades, finalmente estou encontrando meu lugar no mundo.
     
     Nem toda amizade vai durar pra sempre, mas pode ser incrível enquanto parecer que cabe um "pra sempre" dentro de algumas semanas, meses, uns anos. Sou muito grata à cada pessoa que já fez, faz e fará parte da minha vida. Sou feliz por ter conseguido fazer parte da vida de tantas pessoas, e espero ter conseguido tocar alguns corações da mesma forma que eles me tocaram. Em suma, eu dedico este texto à todos aqueles que me presenteiam com memórias que me fazem olhar pra trás e perceber que estou vivendo uma vida que vale todas as penas. Muito obrigada.
     
    

3 de fevereiro de 2016

"The Ugly Duckling" is not about Beauty.

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     Blame it on the filters, the make up and the gym membership, but most of us seem to carry within this feeling of having been one very very ugly duckling, now grown into the most beautiful swan in the pond. Honestly, any self esteem is good for the heart, and I won't be one to question people's search for an evergrowing love for themselves.
    
     However, growing up and understanding how much harm can be caused by the social perception of beauty has made me reject its importance in my life. You can blame it on Funny Girl, maybe, but the last thing that I want to be important about me is how pretty I am or am not. I enjoy having and expressing one very loud personality, louder than anything else - not necessarily screaming, but mostly. 
    
     I was thinking about this as I watched the dozens of swans living on the river right opposite to my student hall.
         
     One very interesting thing that studying Art allows me to is overthink about things, to the point of being capable of extracting from them hidden meanings and purposes theretofore nonexistent to me, but real enough for my subconscious to learn from them. So, Hans Christian Andersen was most probably only talking about his past as an ugly child, and rejoicing on the beauty and glory that the years had brought, but I'd rather understand The Ugly Duckling as a story about identity.
     
     If you have never seen swans, know that they are huge birds, constantly cleaning their white feathers, and usually spill water on those who don't feed them (but I'd guess that's an specific feature of the ones who live next to me). Their babies are greyish and could be the clumsiets and fuzziest creatures swimming on fresh waters. You can tell that swans and ducks don't belong with each other, even though they can be seen hanging together.
     
     After being rejected by his mother, sublings, and basically every other creature he ever met in his life, the duckling strongly believed he wasn't much more than one very unlucky bird. Even though he had already seen the swans, and was aware of their existence, he couldn't see himself as one of them, because he couldn't think of himself as anything other than what he had heard his whole life. His identity was distorted, as a fogged mirror in which he could only see disappointment.
     
     Life can be really ungrateful to those who take a longer time to finally fit in, because there is a rush; the world won't stop spinning around for you to go somewhere else and try to figure out yourself. Then, we can all relate to the unfortunate events in the life of the duckling. Some may say that the tale enhances the idea of superiority between different types of people. I'd rather highlight that the duckling's biggest joy wasn't discovering himself as one of the beautiful birds - or even the most beautiful of them all - , but having found a place to belong, to feel welcome and important, instead of freezing to death alone in the winter.
     
     One of the greatest joys in life, for me, is that, after so much pain and trials, I know who I am and I have found a place, several places, in which my presence is desired, in which I can grow into a better person, and help others as well. I could say that, now, I am a swan surrounded by so many others swans, but we could be ducks, seagulls, bears, bees, ravens. And I may not always feel happy, but I am happy to have a purpose, a focus, a direction. The ugly duckling flew his way into the sky, and I've just spread my wings and followed his path. I hope that you will join us someday.
     
     

"O Patinho Feio" não é sobre Beleza

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     Talvez sejam os filtros, a maquiagem e a academia, mas a maioria de nós parece carregar dentro de si o sentimento de ter sido um patinho muito, muito feio, que cresceu e se tornou um belíssimo cisne de pescoço longo e elegante. Sinceramente, um pouco de auto estima não faz mal a ninguém, e longe de mim questionar o quanto uma pessoa consegue se amar mais hoje do que ontem.
          
     No entanto, crescer e entender como a percepção de beleza das pessoas é nociva me fez rejeitar fortemente a importância disso na minha vida. Pode ter sido um excesso de exposição à Funny Girl, mas a última coisa que eu quero que se destaque sobre mim é o quão bonita eu sou ou não. Eu gosto de ter e manifestar uma personalidade que fale mais alto que todas as coisas - sem necessariamente gritar sempre, mas na maioria das vezes. 
    
     Neste pensamento, eu observava as dúzias de cisnes que moram no rio logo em frente à minha casa.
    
     Uma coisa interessante que o estudo da arte me proporciona é pensar demais sobre as coisas a ponto de extrair dela significados ocultos e até então (pra mim) inexistentes, mas suficientemente reais para que meu subconsciente aprenda com eles. Provavelmente Hans Christian Andersen estivesse realmente apenas se lamentando por ter sido uma criança tão feia e desengonçada e se regozijando pela beleza e glória que os anos lhe trouxeram, mas eu prefiro entender O Patinho Feio como uma história sobre identidade.
    
     Se você nunca viu cisnes, saiba que eles são aves enormes, que limpam suas penas brancas cuidadosamente, e espirram água nas pessoas que não jogam pão na água pra eles (mas isso deve ser mal dos meus vizinhos mal acostumados). Seus filhotes são cinzentos e devem ser as criaturas mais desengonçadas e felpudas que nadam em águas doces. Quando os patos se misturam com os cisnes no rio, é bem fácil entender que um grupo não se encaixa com o outro.
    
     Depois de ser rejeitado pela mãe, irmãos, e basicamente todas as outras figuras que encontrou em sua vida, o patinho, até então, acreditava piamente ser apenas muito azarado na vida. Mesmo já conhecendo os cisnes, de ver e ouvir falar, ele não conseguia se enxergar como um deles porque não passava pela sua cabeça que ele fosse qualquer coisa além daquilo que ele havia escutado sua vida inteira. Sua identidade era deturpada, como um espelho embaçado no qual ele se olhava e enxergava apenas decepção.
    
     A vida é meio ingrata mesmo com quem não se encaixa de primeira, porque existe pressa; o mundo nunca para de girar pra que você desça e pegue o bonde em outro planeta. Nisso, a gente entende com dor no coração as desventuras do pobre patinho perdido. Há quem diga que o conto valoriza uma ideia de que exista uma superioridade entre os diferentes tipos de pessoas. Eu entendo que a maior alegria do patinho não foi descobrir que ele era belo como as aves que ele admirava - nem ter se tornado o mais belo de todos - , mas ter encontrado seu lugar, onde ele finalmente seria bem recebido, bem cuidado, compreendido - e não congelaria solitário durante o inverno. 
    
     Uma das maiores alegrias na minha vida é, depois de muita dor e sofrimento, ter descoberto quem eu sou, e ter encontrado um lugar, ou vários, em que minha presença seja desejada, em que eu cresça e faça as pessoas crescerem. Eu diria que sou um cisne hoje cercado por vários outros, mas poderíamos ser patos também, ou gaivotas, ursos, joaninhas, corvos. Posso não estar feliz todos os dias, mas eu sou feliz só por saber que eu sei quem sou e pra onde vou. O patinho feio abriu suas asas enormes e voou, e eu estou indo atrás. Espero que você um dia possa vir também.