Eu queria escrever algo que fosse maior. Maior do que eu,
maior que o meu drama, maior que as minhas lágrimas. Algo que fosse o bastante
pra atingir as pessoas ao meu redor, e as pessoas ao redor delas, e as pessoas
ao redor delas outras. Algo que criasse vida própria, vida além de mim. Que fosse
mais da Vida do que meu. Que fosse tão melhor que eu.
Eu queria escrever algo que fosse digno de entrar nos
corações, e fazer Vida. Trazer alívio, trazer reflexão, trazer reflexo. Algo que
trouxesse brilho aos olhos, ainda que brilho de lágrimas. Algo que não fosse
esquecido, que não fosse apagado. Algo que trouxesse a tristeza da averiguação,
mas a alegria da superação. Algo que fizesse saltar um caminho àqueles
perdidos.
Eu queria escrever algo que fosse um porto seguro em meio à
tempestade, ou um mirante descoberto num belo dia de Sol. Que abrisse os olhos,
que abrisse os ouvidos, que abrisse os lábios e terminasse em canções de
júbilo. Algo que traga o júbilo da Vida propriamente dita – a alegria puríssima
do existir, do entre olhos distantes que sabem que, de uma forma ou outra,
sempre hão de superar o novo dia, tão mais difícil que o anterior.
Ou talvez não. Talvez isso tudo seja grande demais para que
alguém queira para si a honra. Talvez toda essa escrita maravilhosa,
inconcebível, esteja impregnada nas linhas sinuosas da Vida que nos envolve,
como uma lufada de vento num dia de verão. Talvez não seja exprimível, nem
pronunciável, ou legível por olhos humanisticamente letrados. Talvez seja só
uma aspiração, uma ilusão, uma vocação, uma busca que eu não posso completar.
Eu queria escrever algo que fosse tão grande que eu pensasse
ter vencido e alcançado a graça de exprimir o mais sublime da grandeza da Vida.
Só para que, no dia seguinte, eu descobrisse não ter conseguido. E nunca
parasse de tentar encontrar, entender, conquistar.