21 de janeiro de 2014

Literata



     Eu queria escrever algo que fosse maior. Maior do que eu, maior que o meu drama, maior que as minhas lágrimas. Algo que fosse o bastante pra atingir as pessoas ao meu redor, e as pessoas ao redor delas, e as pessoas ao redor delas outras. Algo que criasse vida própria, vida além de mim. Que fosse mais da Vida do que meu. Que fosse tão melhor que eu.
     
     Eu queria escrever algo que fosse digno de entrar nos corações, e fazer Vida. Trazer alívio, trazer reflexão, trazer reflexo. Algo que trouxesse brilho aos olhos, ainda que brilho de lágrimas. Algo que não fosse esquecido, que não fosse apagado. Algo que trouxesse a tristeza da averiguação, mas a alegria da superação. Algo que fizesse saltar um caminho àqueles perdidos. 
     
     Eu queria escrever algo que fosse um porto seguro em meio à tempestade, ou um mirante descoberto num belo dia de Sol. Que abrisse os olhos, que abrisse os ouvidos, que abrisse os lábios e terminasse em canções de júbilo. Algo que traga o júbilo da Vida propriamente dita – a alegria puríssima do existir, do entre olhos distantes que sabem que, de uma forma ou outra, sempre hão de superar o novo dia, tão mais difícil que o anterior.
     
     Ou talvez não. Talvez isso tudo seja grande demais para que alguém queira para si a honra. Talvez toda essa escrita maravilhosa, inconcebível, esteja impregnada nas linhas sinuosas da Vida que nos envolve, como uma lufada de vento num dia de verão. Talvez não seja exprimível, nem pronunciável, ou legível por olhos humanisticamente letrados. Talvez seja só uma aspiração, uma ilusão, uma vocação, uma busca que eu não posso completar.
     
     Eu queria escrever algo que fosse tão grande que eu pensasse ter vencido e alcançado a graça de exprimir o mais sublime da grandeza da Vida. Só para que, no dia seguinte, eu descobrisse não ter conseguido. E nunca parasse de tentar encontrar, entender, conquistar.

 

20 de janeiro de 2014

MIXTAPE


Eu queria poder gravar em fita
Todas as músicas bonitas que tocam
Na minha cabeça quando você passa;
E que me lembram você, de alguma forma.
E eu queria gravar e não botar o meu nome,
Guardar escondida na sua mochila,
Pra que você encontre e não saiba quem fez,
Quem pensa em ti escutando essas melodias.
Então, talvez, entre uma faixa e outra
Você se lembre que, um dia
Discutindo e falando sobre a Vida
Fui eu quem lhe cantei a tal canção
Que estava tocando no seu toca-fitas.














[encontrou a playlist secreta?]


19 de janeiro de 2014

Eu também não sei, rapaz


A Vida é um eterno não saber
Não saber de ontem, hoje ou amanhã
Se você não sabe, eu também não sei
E isso é normal, rapaz, isso é normal

É que a gente se esconde sempre
Atrás de decepções tais
E nem consegue mais enxergar
Do quanto é realmente capaz

Então toma aqui um abraço, rapaz
E cesse de ter medo, agora
Cesse de temer que já não saiba
O que será de ti em outro dia, outra hora

E repara que, ao teu redor
Há um mundo muito, muito maior
Do que aquilo que os olhos veem
Quando não sabem mais no que focar

Eu também tô aqui, rapaz, eu também tô aqui
Tô aqui perdida, tô aqui sem rota
Mas é que a Vida tem tantos anos, e tantos dias, e tantas horas;
Senta aqui e aprecia a vista, agora.

16 de janeiro de 2014

Final Feliz



Dispenso o rosa, o castelo e o príncipe encantado,
As roseiras no jardim e a piscina no quintal,
A fartura, a bonança e o sorriso costurado;
A boa sorte entregue numa bandeja de cristal.

Antes seja sujo, disforme, sem brilho e sem cor
Pra que o suor do nosso braço desembace o ensebado
E que os pequenos momentos de glória e amor
Sejam melhores e maiores, e mais valorizados.