9 de outubro de 2013

Vinte e Quatro Horas



     Tudo que eu era o Tempo levou. Tudo que eu era, eu deixei que o Tempo levasse. Em tão pouco tempo deixei que o Tempo levasse uns sonhos. Tem bem pouco tempo deixei que o Tempo levasse esperanças. Não faz muito tempo, deixei que o Tempo levasse fragrâncias. Aromas familiares ainda por vir também deixei que fossem embora com o Tempo.
      
     Dez mais oito anos e eu já não quero um romance. Dez mais oito anos e eu já não creio num romance (para mim). Dez mais oito anos e eu só sei falar de tudo (ruim); dez mais oito anos e eu já frustrei meu próprio ser mais de dez mais oito vezes. Eu sozinha, eu mesma, sem ajuda de qualquer outro alguém. Em um processo masoquista que se renova todos os dias, mais de dez mais oito vezes por dia, eu me converti em meu pior inimigo desses dez mais oito anos de Vida.
     
     E eu até tento passar uma imagem de forte, de quem não tá nem aí, mas eu sei que não funciona. Sou só uma criancinha, pra quem não tão nem aí. Eu tava aqui, fui pr’aí, mas acabei o dia de hoje ali, sozinha. Embolei os poemas e joguei-os aí do seu lado do muro. Eles estão aí, agora.
     
     Perde a graça sonhar com romance quando tem tanta coisa na Vida. Não teve mais graça imaginar porque, no fundo, fiquei enjoada. Fiquei enjoada da graça das pessoas apaixonadas. Ninguém se apaixona de graça. Não tem graça se apaixonar quando tudo tem graça pra você. Tudo é lindo, belo e gracioso, mas não mais. Não há mais graça.
     
     Se eu sentasse e esperasse, ou saísse e procurasse, será se faria diferença? Se eu fosse e encontrasse, ou se buscasse e nunca achasse, será se eu seria feliz? Se eu quisesse e não gostasse, ou se gostasse e não quisesse, será se eu teria pra mim? Se eu amasse e não fosse amada, ou se eu fosse amada e não amasse, será se um dia mudaria?
     
     Eu sou carente de todas as expectativas que deixei que o Tempo levasse.
     
***
     
     O Sol veio, daí se foi, e por mais vinte mais quatro horas ninguém foi capaz de encontrar uma solução ao problema da fome e da sede na África.


Um comentário:

  1. Ah...
    Decepções, sempre elas..
    Estão juntas com nós para sempre, infelizmente.

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