O amanhecer de um novo dia já devia nos avisar o quão
ruim ele seria.
Hoje foi um desses dias. Que deviam ter me avisado que
não deveria ter saído da cama.
Ontem também foi. Todos os dias têm sido. Todos os dias
são Hoje.
Hoje eu parti meu próprio coração.
Não o fiz sozinha, claro. Ninguém é tão forte que possa
partir o próprio coração – principalmente alguém como eu, cujas forças já se
esgotam, cedo assim. Falta-me o ar. Desaprendi a respirar.
Parti meu próprio coração hoje. Mas não só hoje. Há
tempos ele tem sido cortado.
A primeira apunhalada ocorreu quando perdi as palavras
pela primeira vez. Não mais soube dizer o que sentia. Meu coração havia sido
partido uma vez, não podia coloca-lo mais em jogo. Transformei-me em um grande buraco negro, cuja primeira
fenda começava a se engolir. Lentamente. A fenda crescia mais rapidamente.
Sem que percebesse o que vinha fazendo a mim, construí um
muro ao redor do meu coração.
Talvez meu inconsciente quisesse impedir danos colaterais.
Não adiantou.
Hoje eu parti meu próprio coração. Parti também o coração
de outro.
Mas não o parti assim, de uma vez só. Venho partindo-o há
muito tempo, lentamente.
A primeira apunhalada ocorreu quando perdi as palavras
pela primeira vez, e não soube dizer-lhe o que sentia.
Nunca mais soube. Tantas semanas sem que eu conseguisse
dizer-lhe o que sinto.
Tentei algumas vezes, várias semanas atrás. Não consegui.
Brigamos.
Tentei mais uma vez, hoje. Não consegui novamente.
Brigamos.
Partimos.
Fugi de mim. Ele também fugiu. De si, e de mim.
Nosso verão está acabando já.
A verdade é que os dias sempre nos avisam quando devemos
ficar na cama.
Chovia. O Sol mal aparecia.
Está frio aqui. Está frio aqui, dentro de mim.
Porque, Hoje, meu Sol foi embora.
Todos os dias são Hoje, agora.