20 de dezembro de 2013

Quem


Pessoa quem?
Quem não sei quem é
Só de olhar nos olhos, e nas mãos, e no sorriso;
Quem não diz, quem não mostra, quem não faz -
Que não faz parecer o que seja, em dia algum

Pessoa quem?
Quem não sei quem foi
Só de olhar pros rastros, pras palavras, pras marcas
Deixadas no corpo da Vida;
Que me deixa sem saber o que pensar.

Pessoa quem?
Quem não sei quem será
Só de ouvir a voz, e as risadas, e os lamentos;
Que não garante, não conta, não jura;
Que é uma incógnita que incomoda.

Pessoa quem?
Quem você. É?


15 de dezembro de 2013

medo de



medo de errar
medo de cansar
medo de dizer
medo de esquecer
medo de morrer
medo de viver
medo de contar
medo de fazer
medo de escolher
medo de fugir
medo de ficar
medo de começar
medo de terminar
medo de seguir
medo de voltar
medo de existir
medo de sumir
medo de querer
medo de odiar
medo de perder
medo de amar

É tanto medo que eu nem sei mais
O que o Medo quer dizer


12 de novembro de 2013

Um Filho de Curió Curioso



“De onde vens, para onde vais?”
“Quem perguntou, quem quer saber?”
“Um filho de Curió Curioso pediu
“Que eu perguntasse a você”

“Quem és tu, quem querias ser?”
“Por que perguntou, por que quer saber?”
“Um filho de Curió Curioso queria
“Que eu indagasse você”

“O quê que tu queres, o que não queríeis mais?”
“Que queres de mim com perguntas tais?”
“Um filho de Curió Curioso pedia
“Que eu soubesse daquilo que você queria”

“Onde vives hoje, em que casa posso bater?”
“Quem és tu que desejas a mim uma visita fazer?”
“É um filho de Curió Curioso que
“Muito lhe quer conhecer”

“Mas de onde vens, pra onde vais?”
“Estou sozinho sem um porquê”
“O filho de Curió Curioso sente
“Muito nisso saber”

“Qual é o teu nome, qual é a tua história?”
“Não sei mais de mim que se ti sei saber”
“Do filho de Curió Curioso só passo
“A mensagem; dele, pra você”

“Que fazes sozinho, sem nada a fazer?”
“Diz quem tu és que lhe digo o porquê”
“Não sou o filho de curió curioso pra
“Que me explique a você”

“Quem és tu que não diz, não responde por que?”
“Diz primeiro que digo eu depois de você”
“Já falei que não eu, mas o filho
“De Curió Curioso quer saber”

“O que queres de si, que não tens de outrem?”
“Enfada falar-lhe sem saber o motivo também”
“O filho de Curió Curioso só
“Muito lhe quer conhecer”

“Vens pro almoço e ficas pro jantar?”
“Onde seria, de quem é o lar?”
“O filho de Curió Curioso e seu pai
“Lhe convidam à noite pousar”

“Vens e descansa, sem reclamar?”
“Por que querem que eu lhes vá visitar?”
“O filho de Curió Curioso queria
“Só lhe fazer descansar”

“Bem, de onde vens, para onde vais?”
“Eu venho do escuro e vou pro silêncio”
“Um filho de Curió Curioso diz
“Que lhe canta pra espantar o tormento”

“Vens e repousa num ninho de seda?”
“Assim, sem saber quem me chama pra ir?”
“Venha sem medo, vem sem demora,
“Que o filho de Curió Curioso já vai partir”

“Vens e depois, segue em viagem?”
“Não tenho dinheiro pra que saia tão tarde”
“O filho de Curió Curioso tem fundos
“E asas, e linho, e sonhos”

“Vamos depressa, que a Lua se esconde à Aurora ”
“Seria seguro seguir-te incógnita?”
“O filho de Curió Curioso diz
“Que venhas sem medo, agora”

“Vamos depressa, que os pássaros cantam sem demora”
“Já não sei quem sou, quem somos, quem és”
“O filho de Curió Curioso também
“Não sabe mais do que cabeça ou pés”

“Vamos depressa, que o Sol brilha em Zênite agora”
“Sem malas, sem roupas, respostas ou chapéu?”
“O filho de Curió Curioso promete
“Que nada lhe falte no céu”

“Vamos depressa, que o Sol já se vai novamente”
“Vamos com ele, vamos correndo!”
“O filho de Curió Curioso já chega
“Voando por cima do vento”

“Venha depressa, que Ele já chega voando por cá”
“Tenho medo que mate-me só de me olhar”
“O filho de Curió Curioso só vai
“Não volta, não mata”

“Vamos depressa, seguindo o caminho do ar”
“Não vejo-o refletido nas ondas do mar”
“Não vês que o filho de Curió Curioso
“Jamais vai chegar?”

“Olhe pra si e repare no bico, nas penas, na voz en-cantada,
“No jeito que pensa, no jeito que fala,
“Nas perguntas que fazes, nas questões que repara,
“Nas dúvidas que tens, sobre si, sobre nada”

“Tu és o filho de um Curió Curioso, e não sabes
“Quem tu és, quem tu querias saber
“E eu sou-te a ti mesmo também
“Que não sabe pra onde vais, de onde vem”

“Agora vem, vem depressa
“Que vamos saber quem seríeis
“Que vamos voar onde podíeis
“E onde não podíeis também”
   
   
     

9 de outubro de 2013

Vinte e Quatro Horas



     Tudo que eu era o Tempo levou. Tudo que eu era, eu deixei que o Tempo levasse. Em tão pouco tempo deixei que o Tempo levasse uns sonhos. Tem bem pouco tempo deixei que o Tempo levasse esperanças. Não faz muito tempo, deixei que o Tempo levasse fragrâncias. Aromas familiares ainda por vir também deixei que fossem embora com o Tempo.
      
     Dez mais oito anos e eu já não quero um romance. Dez mais oito anos e eu já não creio num romance (para mim). Dez mais oito anos e eu só sei falar de tudo (ruim); dez mais oito anos e eu já frustrei meu próprio ser mais de dez mais oito vezes. Eu sozinha, eu mesma, sem ajuda de qualquer outro alguém. Em um processo masoquista que se renova todos os dias, mais de dez mais oito vezes por dia, eu me converti em meu pior inimigo desses dez mais oito anos de Vida.
     
     E eu até tento passar uma imagem de forte, de quem não tá nem aí, mas eu sei que não funciona. Sou só uma criancinha, pra quem não tão nem aí. Eu tava aqui, fui pr’aí, mas acabei o dia de hoje ali, sozinha. Embolei os poemas e joguei-os aí do seu lado do muro. Eles estão aí, agora.
     
     Perde a graça sonhar com romance quando tem tanta coisa na Vida. Não teve mais graça imaginar porque, no fundo, fiquei enjoada. Fiquei enjoada da graça das pessoas apaixonadas. Ninguém se apaixona de graça. Não tem graça se apaixonar quando tudo tem graça pra você. Tudo é lindo, belo e gracioso, mas não mais. Não há mais graça.
     
     Se eu sentasse e esperasse, ou saísse e procurasse, será se faria diferença? Se eu fosse e encontrasse, ou se buscasse e nunca achasse, será se eu seria feliz? Se eu quisesse e não gostasse, ou se gostasse e não quisesse, será se eu teria pra mim? Se eu amasse e não fosse amada, ou se eu fosse amada e não amasse, será se um dia mudaria?
     
     Eu sou carente de todas as expectativas que deixei que o Tempo levasse.
     
***
     
     O Sol veio, daí se foi, e por mais vinte mais quatro horas ninguém foi capaz de encontrar uma solução ao problema da fome e da sede na África.