"Vem cá, meu gato, aqui no meu regaço;
"Guarda essas garras devagar,
"E nos teus belos olhos de ágata e aço
"Deixa-me aos poucos mergulhar."
"Quando meus dedos cobrem de carícias
"Tua cabeça e dócil torso,
"E minha mão se embriaga nas delícias
"De afagar-te o elétrico dorso,"
"Em sonho o vejo. Seu olhar, profundo
"Como o teu, amável felino,
"Qual dardo dilacera e fere fundo,"
"E, dos pés a cabeça, um fino
"Ar sutil, um perfume que envenena
"Envolve-lhe a carne morena."
O Gato - Charles Baudelaire
31 de julho de 2014
7 de julho de 2014
[sem título]
Às vezes eu só quero escrever, sabe. Não quero mudar o dia
de alguém. Não quero transformar o mundo. Não quero tocar os corações. Só quero
botar pra fora. Mas só botar pra fora dá trabalho.
Só botar pra fora pode ser demais. As pessoas são más, as
pessoas destroem vidro quando o tem em mãos. Eu posso ser de vidro, às vezes. Ou
eu posso ser de aço. De pedra. Pedra quebra e se quebra. Eu não sei bem o que
eu sou hoje. Mas isso não importa.
Hoje eu não quero que faça sentido. Que você se identifique. Você pode até conseguir, mas não porque eu quis. Hoje eu
só quero pensar que consegui escrever o bastante pra aliviar meu coração. Como uma
torneira um registro global, abrindo e fechando uma tubulação com mais de
cinquenta milímetros de diâmetro. Parada, acumulando. Preciso vazar, preciso
jorrar.
Então, hoje, não é para que outros entendam, para
que outros concordem. Hoje eu escrevo pra mim. Pra que eu saiba que eu escrevi,
que eu estive aqui. Que eu estou sentindo, estou mudando, estou pensando, estou
sorrindo, estou sofrendo. Para que eu me lembre que hoje, neste momento, eu
estive viva, e em explosão.
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