24 de junho de 2014

Funeral

Não há lamento por quem já vai tarde, além das horas marcadas para que permanecesse aqui
Ainda que por você eu me permita chorar um verso, ou dois,
Colocados numa estrofe bem escrita, bem completada, bem acertada
No meio dessa sua testa suada, escorrendo dos seus hormônios e venenos,
Queimada nas cinzas do meu último cigarro.
   
Hoje, pra mim, você morre; e morrem os poemas que pra você escrevi,
E todos os choros sofridos que me permiti chorar, e aqueles que tão prontamente engoli.
Faço funeral para que você se vá, e qualquer lembrança vá também.
Todas as canções que te cantei são agora trilha sonora de um cortejo fúnebre
Que será sua última pisada sobre as terras de mim.
   
Que você saia debaixo de minha pele e que, pelos buracos que você deixa,
Saiam os restos de tristeza e pesar que me entupiam a aorta;
E que eu seja cheia de contentamento e do bom amor que me foi roubado,
E que eu sorria mais do que sorria antes de saber que você existia,
E que eu nunca mais aceite suas migalhas, mas me farte do Pão da Vida.
   
E que, conforme seu caixão desça, e você desapareça, eu nem me lembre que um dia já sofri.