25 de fevereiro de 2013

Memória [6 dias de Tempo]



[nesta semana que antecede minha 18ª data natalícia, comprometi-me a escrever, desta Segunda, até o Sábado fatídico, um texto sobre o Tempo]


     Foi numa quinta-feira, acho, mas bem pode ter sido numa quarta, ou numa segunda. O tempo perde o sentido quando estamos tão mais preocupados com o que há de vir a se do que com o que tem sido. Um grande dia chega, e há já tanta preocupação com o próximo, que as coisas esvaziam-se de sua real importância.
     
     Em algum dia destas últimas semanas, parei por um segundo e notei alguém que por mim passava. Ergui os olhos dos quadrinhos que lia, e observei seus passos lentos até seu carro. Alto, costas encurvadas. Mal erguia os olhos do chão. Movimentou a cabeça pra despedir-se de mim, com um sorriso simples.
     
     Há algo de muito sombrio sobre a Memória. Ela nos prende ao passado, mas transforma a saudade e a nostalgia em pesos insustentáveis. Passamos a viver em função de preservar a lembrança do que já passou. O Tempo congela dentro de nós. Ao nosso redor, ele continua correndo.
     
     O brilho de um substantivo é dar substância àquilo que mal existiria. Tenho um nome que é só meu. Ele também, mas não de todo. Assumiu o nome daquilo que se tornou mais importante, superior a si mesmo. Penso em seu nome, mas como o nome de alguém que esvaziou-se de quem é. Manteve a gentileza e a disposição. Vive a vida que o trabalho lhe deu.
     
     Ninguém sabe bem que ele é. Só onde ele está.
     
     Responsabilizou-se por todos nós. Fez daquilo o máximo que tem. Não sei se está feliz. Talvez tenha só aceitado. Vive num passado que se tornou presente, e futuro. Toda sua memória se repete. Quase nada muda de novo. A mesma rotina. Os mesmos passos. As mesmas funções. A mesma maleta, a mesma postura recurvada, o mesmo molho de chaves no bolso. Ontem, hoje e amanhã.
     
     Meu minuto de observação acabou quando entrou em seu carro e foi embora. Foi embora, sozinho. Já era minha hora de ir também, mas não quis. Estava presa àquele lugar. Ele também. Eu, por uns poucos tempos só; ele, pra sempre, talvez. Morreria indo e vindo, quem poderia dizer que não.
     
     Sua memória, e a memória de si, estariam sempre encrustadas nas paredes daquela sala. Para além de enquanto estivesse ali. Ele era o lugar. O lugar o era.
     
     Aquele Passado se encerra quando ele sair dali.


2 comentários:

  1. Lindo Lu, linda reflexão e muito verdadeira :D
    É muito bonito o empenho de algumas pessoas que fazem muito por nós dentro do curso, principalmente nesse caso.

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