- Mas você é uma criança, hein.
- Suspiro. Sou
mesmo.
Sem reação por um
segundo.
- Eu acabei de te chamar de “criança”, Pedro. Você está me
escutando?
- Sim, e em altíssimo e boníssimo som, se você quer saber.
Qual o problema?
- Não era um elogio.
- Eu sei disso. Mas é a verdade, não posso negar a verdade.
- Você sempre nega a verdade, Pedro. Você é um excelente
negador de verdades. Precisava ser diferente justo agora? Agora?
- O quê foi, Ana? Estava querendo causar uma briga? Mais
uma, é isso mesmo?
- Ah, pelo amor de Deus, você sabe que eu não preciso querer
forçar uma discussão aqui nessa casa. Tudo é motivo pra rusgas debaixo desse
teto.
- E a culpa certamente não recai sobre suas implicâncias e
grosserias, claro.
- Não sou grossa. Muito menos implicante.
- Claro. Exatamente por isso você implicou tanto com o fato
de eu não replicar sua ofensa.
- Não estava implicando. Só achei de uma hipocrisia sem
tamanho. E vindo logo de você, que adora falar de hipócritas.
- Mas mulher, você vive falando que eu preciso aceitar
minhas falhas e imperfeições, e buscar me tornar uma pessoa melhor. Admitir que
sou uma criança não deveria ser uma parte importante disso?
- Nossa, Pedro, mas você chora e lamuria pra tudo, hein?
- Já está me desrespeitando? Eu realmente achava que era o
marido aqui, mas você me trata como se eu fosse uma das suas concubinas!
- Bote suas calças de volta, Pedro. Pare com o drama e limpe
esse suor que está escorrendo da sua testa. Tudo pra você se resume em
showzinhos, teatrinhos, estou farta disso já!
- Ana Cláudia, pelo amor de Jesus Cristo morto e ressurreto,
pare. Pare. Pare você com esse seu jeito mesquinho e ridículo. Pare de me
tratar como se fosse um problema. Porque cargas d’água você se casou comigo, se
a única coisa que eu recebo por aqui é tapa na cara atrás de tapa na cara? Não
tem um pingo de respeito por mim! E nem estou falando daquele respeito mítico
que a mulher sábia tem pelo marido – seria esperar demais de você –, mas um
respeito do tipo normal, que se tem por qualquer, qualquer ser humano digno!
Uns cinco minutos de
silêncio.
- Me desculpa, Ana. – Encarava
o chão – Não que o que eu tenha dito seja cem por cento errado, mas eu não
deveria ter dito dessa forma.
- Não, mas você está certo. Cem por cento certo, Pedro.
Mais uns três minutos
de silêncio, e uma expressão descrente.
- Por quê você decidiu que eu estou certo agora, hein?
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