Já faz duas horas que eu estou aqui na cama, deitada, sem
conseguir dormir, encarando o teto. Não, não é culpa de ninguém. É culpa minha
mesmo. Os dias passam e a vida permanece igual; 24 horas por dia, sete dias por
semana, a mesma babaquice, as mesmas reclamações, os mesmos atos estúpidos e o
mesmo tempo desperdiçado. Rancor, mau amor, revolta, orgulho, e o mundo segue
girando na mesma velocidade, sem se mover um pouco a mais ou a menos por causa
do meu drama. Ficar sentada, parada, esperando o oceano criar uma onda
fantástica que varrerá tudo aquilo que precisa ser destruído na minha vida é
inútil. A ficção IMITA a realidade, e não o contrário. Um dia vai dar certo,
mas não agora, e querer apressar as coisas é desnecessário: o ritmo delas não
se altera. E no meio de tanta futilidade, ainda sobra tempo pra acusar O único
que não tem culpa em nada disso. Sim, Senhor, fui eu que errei, mas cadê a
força de vontade pra mudar? Suponho que foi embora na última vez em que eu
virei as costas pra Ti.
Então eu tenho uma vida, um Deus, um monte de gente que amo,
um monte de gente que não amo, e tanta coisa pra acontecer ainda. E eu me
pergunto: quando eu vou começar a fazer mais que o mínimo para que o movimento
da minha existência saia do movimento retrógrado? Claro, a mesma desculpa de
sempre. “Você é tão jovem, tem tanto tempo ainda para fazer tantas coisas”.
Engraçado, lembro-me de me falar essas mesmas palavras há sete anos e, então;
desnecessário mencionar como nada se transformou de verdade. O fato é que cada
segundo imóvel, desperdiçado com choros e lamentações é um minuto a menos do
meu tempo de ação que se vai. Não que isso seja tão difícil de ser percebido,
mas é que é muito difícil conseguir retirar as nádegas tão confortavelmente
colocadas no sofá, principalmente quando o melhor programa do universo está
passando na televisão.
Uma hora a menos.
Uma hora a menos que será repetida logo em seguida, se o
próximo programa for tão bom como o anterior. A dúvida fica presa, então, e em
parte presa na lerdeza emocional do sofredor em questão. É complicado entender
a motivação verdadeira de toda essa necessidade de drama e enrolação que
permeia não só a minha vida, mas muitas – mas vamos nos ater à desgraça da
minha vida: se eu não estou fazendo nem por mim, quem dirá por outros.
Um dia, talvez, eu consiga me levantar desse sofá emocional
e colocar minha vida em movimento. Deus, eu com certeza vou precisar de alguma
ajuda, então neste momento de insônia e reflexões vazias e infrutíferas, eu
gostaria que o Senhor atentasse para a minha voz e me fizesse mais forte. Talvez,
talvez amanhã seja esse dia. Esse dia em que, acreditando em Ti e em mim, eu
entenderei como a vida é simples e a complicação sou eu. Sou eu. Eu.
Eu.
Estou com sono agora.
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