Então é isso,
M., é isso aí. Não era pra ser agora. Não era pra funcionar, pra ser perfeito e
ideal como eu sonhava. Pode ser que seja depois, e pode ser que não seja nunca
mais. Quem sabe, M.? Só Deus mesmo. Pudera eu entender as coisas que nos
acontecem nessa vida complicada. Por enquanto, é mais dor que conforto; mais
pesar que alegria; mais doença que saúde; mais veneno que cura.
Eu não queria
ter que deixar pra lá, M., eu não queria. Eu desejava poder insistir mais um
pouquinho, em vez de só deixar que o tempo engula. Eu sei que deixar a cargo do
tempo é permitir que a dor ainda corroa as superfícies do meu coração enquanto
ela permaneça.
Eu achava,
M., que seria eu e você por muito tempo. Você insiste que será, que será, mas
nós sabemos que não é a mesma coisa. Eu esperei compartilhar muitas coisas com
você ainda, porque foi bom o tempo e os pequenos momentos que foram meus e
seus, que só nós conhecemos e lembraremos. Era gostosa a sensação de te
procurar em meio à todo mundo, e, encontrando os seus olhos, receber carinho de
volta. Eu permiti que você apagasse minhas luzes, e que visse tudo isso que eu
escondi dentro de mim, pra que outros não vissem; eu te deixei ser luz onde eu
não queria abrir os olhos.
E, agora, M.,
acabou. Acabou assim, já não vai mais continuar como era. Não vai, M., não vai.
Nós já não somos como um do outro, mas somos comuns um pro outro. E, por mais
que me doa, eu sei que comum é o melhor que nós seremos, agora ou pra sempre. É por isso que eu te escrevo agora, M. Nunca me faltou coragem pra falar de tudo de bom que eu sentia. Agora me falta alguma vergonha pra conter esse ímpeto de me desnudar em público. Está tudo claro e simples, apesar de que não pareça muito, agora. Você sabe que eu sou só aquilo que você vê.
Nós ainda
temos tanto pra viver, M., que seria egoísmo meu não te deixar viver as coisas
tão grandes que te esperam. Pode ser que o tempo te faça tão melhor que seja
bom demais pra mim. E, pode ser que o Tempo te leve pra tão longe, que eu nunca
mais te veja. Podia ser que, um dia, nós estivéssemos bons o bastante um para o
outro, e prontos pra levar adiante. Mas, por ora, eu vou só deixar pra lá, M.
Só deixar pra lá.